segunda-feira, 31 de março de 2008

Eu vou

Vou sair pelas ruas, vou caminhar a esmo, vou beber o vento fresco da noite; vou varar estrelas, vou tocar o tronco das árvores, vou dar passos no andar do meu coração; vou escutar canções com fones invisíveis, vou saltar os hiatos das calçadas, vou cumprimentar paralelepípedos com o meu Boa-noite; vou me distrair contando as luzes dos postes, vou respirar fundo para tomar fôlego, vou reprimir a vontade súbita de sair em disparada; vou perto porque minha cabeça já vai longe, vou devagar porque a única pressa que tenho é a do encontro, vou sozinho para quem só me vê com o olhar das aparências; vou com o semblante distraído, vou com o sorriso bobo, vou com a garganta seca; vou vagar, vou sofrer, vou chorar; vou com dor, vou com paixão, vou com coragem; vou rir, vou sorrir, vou amar.

"Vem andar e voa".

Eu vou.

Vens?

sexta-feira, 28 de março de 2008

Digressões ao pé da tarde

Somos realmente a soma das pessoas que conhecemos? Eu pensava nisso enquanto caminhava. As pessoas se tornam histórias, não? Há um ponto em nossas trajetórias que isso acontece. Somos, de certa forma, a soma desse compartilhar de histórias, experiências, trocas.

Mas nem tudo são boas histórias. Umas são felizes. Outras são tristes... histórias que sentimos muito, inesquecíveis histórias; mas que não dá para manter, não dá para carregar junto. Uma desilusão juvenil; a mágoa que ainda não passou e nunca passará; a traição de um amigo; o amor que deixou de ser e virou pesar...

Histórias que têm massa, têm densidade; histórias que a gente pode guardar na lembrança, porque foram e são importantes - pois ajudaram a fazer de você o que você é. E, mesmo porque, são inevitavelmente inolvidáveis. A gente as deve guardar no compartimento lícito das memórias; mas essa vida anda é pra frente, e não dá pra atravessar certas portas se as histórias forem um fardo que se arrasta ao invés da carne de nossa memória. As histórias fazem parte de nós, verdade; mas não devem ter poder maior sobre nossa própria história - a de quem a gente é e a de quem a gente pode vir a ser. Do contrário, como adejar as asas? Como aprumar as penas preso às cadenas?

Eu sei que pessoas são histórias. Mas sei que somos a soma dessas histórias?

Às vezes, me ocorre que o termo somar nem sempre é o mais acertado. Meu pai uma vez me disse: “Filho, acostume-se. A vida é feita de perdas”. O que me leva a crer que somos, também, a subtração - ou divisão - de quem conhecemos.

Com quociente. E o resto é resto.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Até o pescoço

Carro, casa própria, seguros, empréstimos, impostos, taxas diversas, etc...

Tem uma coisa que não entendo. Será o Brasil o único lugar do mundo onde as pessoas te cumprimentam e até te congratulam por contrair dívidas? E quanto maiores e mais aterrorizantes forem os débitos, mais efusivos parecem ser os parabéns e os tapinhas nas costas!

Gente... Por favor, me dêem parabéns quando eu não dever nadica de nada a ninguém. Pelos meus cálculos, daqui a uns 50 anos.

Tudo bem. Vamos seguindo. E como reza a canção:

Beleza pura. Dinheiro, não.

* * *

Da série Novos Velhos Aforismos

"Quem empresta aos pobres dá adeus."

Verdade.

A-há

Finalmente consegui postar um vídeo no blog!
Agora, nada me deterá.

Take Five

Aí, Nanda, atendendo a pedidos - taí um link. Clássico do Dave Brubeck que gosto de ouvir no trabalho.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Cadê?

Tô tentando postar um vídeo aqui, numa operação de conta do blogger junto ao mais famoso buscador da web. Acho que fiz tudo direitinho. Mas, até agora, necas. Hmmmmm...

terça-feira, 25 de março de 2008

É um, dois... é um-dois-três-quatro!

Tem um blog muito bom, salvo engano de duas cariocas, chamado Duas Fridas. Vão lá depois, é coisa boa.

Vira e mexe elas sacodem a blogosfera com questões inteligentes, brincadeiras, etc. A última trata do seguinte: músicas com começos arrebatadores. Originalmente se tratam de canções que te façam sair dançando, mas eu gostaria de esticar um pouco a proposta delas - “Qual é a canção que aos primeiros acordes/versos te arrebata?".

Fiz rapidinho uma listinha.

Quando quero sossegar o coração – My prayer, do The Platters
Quando quero fugir – Vilarejo, Marisa Monte
Quando tenho de ir à missa – Igreja, Titãs
Quando quero ser humilde e temente – Romaria, Renato Teixeira
Quando faço besteira – Atire a primeira pedra, Ataulfo Alves
Quando quero dirigir à toa num fim de tarde – La vie em rose, com Grace Jones
Quando quero ficar admirado – O que será, Chico Buarque
Quando quero me sentir criança – Se enamora, Balão Mágico
Quando quero criar um clima – Smooth Opereta, Sade
Quando quero dançar lentinho – I´ve got you under my skin, Frank Sinatra
Quando quero desmunhecar – I will survive, Gloria Gaynor
Quando quero dançar numa boa – Portela na avenida, vários intérpretes
Quando quero chorar sem medo de ser brega – O portão, Roberto Carlos
Quando quero tomar coragem – Um segundo, Skank
Quando quero tomar todas – Lonely Teardrops, Jackie Wilson
Quando quero tomá-la nos braços – Fly me to the moon
Quando quero fazer bubiça – Oh, uh, oooooooooh! (pode não parecer música pra você, mas pergunte aos meus ouvidos)

segunda-feira, 24 de março de 2008

Homem do tempo

Bate o telefone, atendo. O colega:
- Seu carro tá estacionado lá fora?
- Sim. Por quê?
- Corre. Tá chovendo granito.

Ecos do Tijuco

Diamantina continua simpática e amistosa. Mais aprazível e menos cosmopolita que outras cidades históricas. Como Ouro Preto, por exemplo. À exceção de uma garçonete carrancuda com quem topamos em duas ocasiões, sempre fomos bem atendidos em educação e cortesia.

* * *
De madrugada, única lanchonete aberta. Fome de carboidrato batendo. Ao lado de cinco pastéis suspeitos e três pálidas coxinhas que pareciam fazer jornada dupla, tinha um quitute na prateleira. Vagamente atraente, mas cuja aparência, formato e cores tornavam impossível de lhe definir o tempero. Seria doce ou salgado?

Perguntamos ao menino que veio nos atender:

"- Rapaz, issaí é o quê? De doce ou de sal?"

O menino:

"- É... bom.. er... isso aí... Isso aí vou te falar o que é... Issaí é... - aí ele vira pro outro que estava no caixa e o grito ecoa pelo salão:

"- Ô Fulano, que quié issaqui mesmo?"

E o outro:

"- Sei lá. Eu que vou saber?"

Aí o garoto se volta pra gente e pergunta:

"- E então? Vão querer experimentar?"

quinta-feira, 20 de março de 2008

Semana Santa

Vi uma faixa outro dia escritassim:

"Semana Santa - SOBRENATURAL!!!"
"Quarta: orações para curas e milagres"
"Quinta: soluções contra obras de macumbaria"
"Sexta: fortalecimento da fé e orações"

Hmmm...

Tentador, mas acho que vou mesmo pra Diamantina.

terça-feira, 18 de março de 2008

Receita Sapeca

Vamo lá, moçada!
Cê pega agora meio quilo de merluza
Numa travessa e, sapeque, introduza
A gosto: cebola, alho, sal e limonada.

Vamo ao liquidificador
Sem ordem de chegada nem primazia:
Molho de tomate, pimenta (pra dar ardor)
E leite de côco (pra lembrar a Bahia).

Vamo lá que tá ficando bão!
Antes de bater, atenção ao toque:
Raspe um copo de requeijão
Pra assentar Minas nesse fricote.

Vamo ligá o bicho na tomada
Zum! Pronta a deliciosa calda
O peixe tá ali, mal güenta esperar
Se derretê no banho desse mar.

Vamo ao forno sem demora
Então, é mais do que suficiente
Pouco mais que meia hora
Pra ficar borbulhando de quente.

Pra acompanhar, basta uma tigela de arroz
E, melhor, uma gatinha mimosa
(O prato serve três, mas a dois - hum! -
A receita fica bem mais gostosa!)

segunda-feira, 17 de março de 2008

Nada como segunda à noite

Pra sair do trabalho às sete.
Pra encontrar minha cama mais tarde
Pra ficar à janela de casa
Pra deitar os olhos na noite
Pra acordar o que em mim adormece
Pra respirar bem fundo
Pra sorrir de qualquer tristeza
Pra debochar de toda chaga
Pra não se apequenar jamais
Pra se perdoar novamente
Pra crescer um pouco mais
Pra serenar a alma
E sentir o espírito livre outra vez.

Nada como segunda de manhã

Ressaca.
Computador estragado de novo.
Estacionamento lotado.
Chefe de cara feia.
Cliente desaprovando criação.
Pálpebras pesadas.
Cara de sono.
Barriga vazia.
Paciência pouca.
Grrr.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Qada cual com seu cada qual

Esse finde, a Doutora e eu fomos pra rua. Uma apresentação de chorinho ótima no A Casa, em Santa Efigênia. Caba o show, nóis se aconcheguemo mais pra perto da rodinha dos músicos que tocavam informalmente. Pedi uma canção, fui atendido, e então foi aquele trocar de palavras, talecoisa, coisital.

Daí que tinha duas meninas sentadas ao lado, bem juntinhas. Visu legal, despojado, moderninho. Uma jornalista/cantora/poeta; a outra, arquiteta. Papo bacana, tudo beleza, e o bar fechando. De repente, surpresa: Meg e as garotas fazem aniversário no mesmo santo dia - não me pergunte como elas descobriram isso em menos de cinco minutos - e, quando assusto, tão lá as moças numa algazarra que mereceu até foto de RG pra registrar.

Aí bateu a fome da noite, o bar fechou. Esticamos pra outro. Chegando lá, o resumo da ópera: a moça com a idade da Meg descobriu há menos de um mês que era lésbica. Estava com um rapaz na Obra quando conheceu a outra garota e, nas suas próprias palavras, “foi arrebatada”. Dispensou o rapaz, ficou com a arquiteta, avisou a família, marcou c’a outra o casório numa vila do interior para a véspera do aniversário conjunto e - tchanran, para completar a narrativa arrebatadora - nos convidou para ser padrinho e madrinha!!!


O entendimento entre todos foi ótimo, tanto que aceitamos no ato, mas...

Acho que aquela noite e o tal convite foram só porralouquice pois, embora tenhamos passado nossos contatos, as meninas até agora não deram alô. Tento aqui preservar a identidade delas e pensei três vezes antes de contar esse caso. Mas, quer saber? Elas me pareceram tranqüilas e desencanadas. As famílias tão sabendo e aceitaram. E, pô, a despeito de toda a precipitação possível, as meninas estão assumindo que se amam mesmo, se gostam, se adoram, e daí? Problema de quem achar ruim.

Se elas nos procurarem e descobrirem o que contei aqui, podem talvez é achar ruim comigo e até admito a possibilidade de retirarem o convite de padrinho. Ok, desde que não se retire o convite para a festa de casamento. Não quero perder esse rega-bofe, nem!



Façamos


“Os rouxinóis nos saraus fazem
Picantes pica-paus fazem”
Cole Porter/ Carlos Rennó


A manchete do dia não foi o pacote para aparar a queda do dólar, nem o ligeiro crescimento do PIB, tampouco o cidadão que encontrou no lixo da lotérica uma raspadinha premiada de sete mil reais. A manchete do dia fala de amor...: “Duas fêmeas para Idi Amin”.

Podem objetar exagero. Podem dizer que o amor não pertence ao reino dos animais. Talvez. Mas, vejam só o que é o comportamento do cachorro que fica meses sem fruir dos encantos de uma cachorrinha. Quando finalmente tem a cópula merecida, como fica feliz! Até os olhos babam de contentamento.

Não entendo de ornitologia, mas não existem psitacídeos que são fiéis para a vida toda? Não há espécies de pássaros canoros que se entristecem, e murcham, e silenciam o canto se não compartilham a presença de um companheiro?

Não reside aí algum tipo de amor? De vida, de beleza, de essência, seja qual for? Já sei - já sei a resposta. Ora, deixem por um segundo o imperativo biológico reprodutivo de lado e a minha visão antropológica e subjetiva em paz.

Pois nosso tranqüilo Idi Amin, 35, ilustre residente do Zoológico de Belo Horizonte, vai receber, depois de 24 anos de solidão, a companhia de duas charmosas gorilinhas do Primeiro Mundo. Duas, uma para cada dúzia de anos! Aí está. Do nada, eis agora nosso Amin realizando a fantasia selvagem dos machos concupiscentes!

Êita, faço votos. Que tu, Amin, ao primeiro contato com tuas damas da Europa, sejas educado, mui zeloso e cortês; e, ao conquistá-las com teu amor e algumas bananas, possas possuí-las com a fúria da tua enorme solidão e a volúpia feroz da tua carne. E, ao fazê-lo, que seja bem-feito, para que as cative eternamente em teu novo lar e no grande e amoroso recanto do teu coração. Vá, Amin! Honra a nós todos, gorilas mineiros!

Façamos, gente. Vamos amar.

terça-feira, 11 de março de 2008

It's rock n' roll, baby

Outro dia me pediram para bolar nomes para um conjunto de rock infantil. Estou aceitando sugestões, mas, sem pensar muito, saiu isso aí - o que, não sem pouca coragem, posto agora.

Algumas versões mais radicais, hardcore, punks:

Nescáusticas
Energia corrosiva que dá gosto

Kids Ritmia
Seu cérebro vai entrar nessa onda

Hasta la vista Babies
Extermina seus tímpanos

Creche - No limit
Chocante

Fraldas & Fraudes
Daqui só sai m...

Emo Roydas
Toca fundo em você

Mini Macs
The delicious taste of the junkie sound


E também a versão de algumas bandas nacionais:



Barão Vermelho - Boletim Escarlate
Notas nada musicais

Kid Abelha e os Abóboras Selvagens - Abelha Kids e os BigMac’s Irados
Zzzzzzzzzz! Crunch! Chump! Shlap!

Capital Inicial - Mesada Inicial
A banda que não dá nem pro gasto

Inimigos do Rei - Inimigos de Herodes
Esse som é de morte!

Na medida

Vi finalmente Tropa de Elite. Bom, mas não excepcional como diziam. A narrativa, bem construída; o Wagner Moura, um dos bons atores da sua geração; o filme, bem produzido. Não sou crítico, e embora tenha gostado de acompanhar e compreender um determinado ponto-de-vista, as vozes que acusaram o Padilha de apologista da tortura, violência ou facismo, ou sei lá o quê na repressão contra o crime, me pareceram exageradas. Tropa não é isso mesmo? Uma opinião, um juízo de valor, um ponto-de-vista? Por outro lado, tampouco entendo a baba, fissura ou pico de testosterona que até hoje uma pá de gente parece sentir ao repetir os bordões “Pede pra sair, Zero-dois”, “Traz o saco”, etc.

De qualquer forma: na narrativa desse dilema social, visto pelo olhar do Capitão Nascimento, Tropa de Elite bate. Bate bem, bate em cima - um olhar que mata mais do que atropelamento e menos que bala perdida.

Pra mim, o trunfo de Tropa é seu recorte - de uma realidade, de uma perspectiva -, visto que, se está longe, bem distante de ser um filme ou história ruim, também não é lá essas coisas.

É ali essas coisas.

Na cabeceira

Ontem à noite. À série de livros lidos em frações que habitam a periferia de meus lençóis, juntaram-se outros: o de Sonetos e Nova Antologia Poética, daquele famoso professor de Ciências Naturais, autor desses posts mais recentes.

Por fim, atravessei as flores múltiplas, as cores doces, as mulheres de sonho, a espuma do mar, o céu e sol iridescentes do Rio para tatear através do fog sombrio, a meia-luz dos lampiões, as frias calçadas e úmidas ruelas de uma soturna Londres à cata de um agressor contumaz de mocinhas, um famigerado senhor que atende pelo sobrenome de Hyde.

Bela troca. Deveria ter comprado a Ilha do Tesouro.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Soneto de contrição

Eu te amo, Maria, te amo tanto
Que o meu peito me dói como em doença
E quanto mais me seja a dor intensa
Mais cresce na minha alma teu encanto.

Como a criança que vagueia o canto
Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa.

Não é maior o coração que a alma
Nem melhor a presença que a saudade
Só te amar é divino, e sentir calma...

E é uma calma tão feita de humildade
Que tão mais te soubesse pertencida
Menos seria eterno em tua vida.


V. M.

Soneto de devoção

Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.

Essa mulher é um mundo! - uma cadela
Talvez... - mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!

Vinicius de Moraes

sábado, 8 de março de 2008

O dia delas

Para homenagear e tentar minimamente exprimir uma fração do incomensurável amor que nutrimos por esse ser divino, transcedental, superior, é necessária a presença de um poeta.

Eu Gosto de Mulher
Ultraje A Rigor

Composição: Roger Rocha Moreira

Vou te contar o que me faz andar
Se não é por mulher não saio nem do lugar
Eu já não tento nem disfarçar
Que tudo que eu me meto é só pra impressionar

Mulher de corpo inteiro
Não fosse por mulher eu nem era roqueiro
Mulher que se atrasa, mulher que vai na frente
Mulher dona-de-casa, mulher pra presidente

Mulher de qualquer jeito
Você sabe que eu adoro um peito
Peito pra dar de mamar
E peito só pra enfeitar

Mulher faz bem pra vista
Tanto faz se ela é machista ou se é feminista
'Cê pode achar que é um pouco de exagero
Mas eu sei lá, nem quero saber,
eu gosto de mulher, eu gosto de mulher
eu gosto de mulher

Ooo ooo ooo oo
Eu gosto é de mulher!
Ooo ooo ooo oo
Eu gosto é de mulher!

Nem quero que você me leve a mal
Eu sei que hoje em dia isso nem é normal
Eu sou assim meio atrasadão
Conservador, reacionário e caretão

Pra quê ser diferente
Se eu fico sem mulher eu fico até doente
Mulher que lava roupa, mulher que guia carro
Mulher que tira a roupa, mulher pra tirar sarro

Mulher eu já provei
Eu sei que é bom demais, agora o resto eu não sei
Sei que eu não vou mudar
Sei que eu não vou nem tentar

Desculpe esse meu defeito
Eu juro que não é bem preconceito
Eu tenho amigo homem, eu tenho amigo gay
Olha eu sei lá, eu sei que eu não sei,
Eu gosto é de mulher Eu gosto é de mulher

[Refrão]

Eu adoro mulher!
Eu não durmo sem mulher!
Eu não vivo sem mulher!

No bar

Paraíso de um pagão
É uma loira no copo
Uma morena na mão

Na Meg

Rabisco de próprio punho:
Ela, arte-final
Eu, rascunho.

sexta-feira, 7 de março de 2008

No trabalho

Chega a sexta, prevarico
É ou não é
Um proceder de jerico?

Um segundo

Da série Músicas que fazem sentido.

Não pense mais
Que você não é capaz
De cruzar estas esquinas

O mundo oscila
Realmente, eu sei
Na beirada dos teus olhos

Pode acreditar
Diabo é quando não há mais poesia
O chão não está mais fixo do que seu olhar
Hoje pra ninguém

Mas veja só
Não torne este peso maior
Sem razão

Você tem todo tempo
E mais um segundo pra se convencer

Você, rapaz
Na verdade é um a mais
Percorrendo o mesmo círculo

O mundo oscila
Realmente, eu sei
Feito fogo nos teus olhos

Pode acreditar
Diabo é quando a lágrima não cai
O chão não está mais fixo
em nenhum lugar
Hoje pra ninguém

Mas veja só
Não torne este peso maior
Sem razão

Você tem todo tempo
E mais um segundo pra se convencer

quinta-feira, 6 de março de 2008

Produto notável

Calor de rachar vezes (vontade irresistível de tomar uma gelada)2 menos (responsabilidades diversas + faxina doméstica) = saidela quinta-feira!

PS. Não dá pra elevar ao quadrado na caixa de postagem. Mas dá pra imaginar a sede que leva ao engradado.

"Falou"

De repente, a gente se pega notando certas palavras. Neste caso, expressão. Na saída do trabalho, passei pelo porteiro e o cumprimentei. “Falooou”, eu disse. Ele: “Falou”.

Quando foi que “Falou” se tornou o desfecho mais popular das nossas despedidas? Certamente não o era quando eu era menino. Em pequeno, a gente dizia “tchau”, "baibai" ou “até” e suas variações, como “até logo”, “até mais”, “ até mais ver” - até o singelo “inté”. (Digressão ligeira: de alguma maneira, meus pais devem ter me ensinado que, dos nenês, só se despede “fazendo teté”, sua mão rente ao rosto e flexionando os dedos, aquela coisa de “Dá teté pro Rubão? Dá?” e, mesmo hoje, não consigo dizer adeus a nenhum bebê se não for desse jeito, o que já me fez receber olhares de adultos com sérias dúvidas sobre minha estabilidade mental.)

Mas “Falou”, a gente nunca falou. A coisa hoje ficou tão substantivada que é comum, ao telefone, dizer: - “Então, falou procê”. De uma hora para outra, um verbo virou nome bem debaixo do meu nariz, literalmente. A verdade é que nem sempre a gente pára pra reparar no que anda saindo da própria boca.

Fiquei encafifando nisso enquanto ia pro estacionamento e uma hipótese de origem me ocorreu. Seria o encurtamento de “Falou, tá falado”, essa deglutição voraz de tudo o que for longo e der trabalho para dizer, tão comum a nós, mineiros? Sei não.

O que sei é que são dez pras duas da matina. Eu tô com um sono danado e, fosse responsável, já deveria estar na cama. Passo a chave pra fechar o post, mas sem manejar a expressão que vocês talvez esperassem que eu dissesse.

Dêem teté pro Rubão.

quarta-feira, 5 de março de 2008

A beautiful day

Hoje é quarta-feira.
Hoje é o day after das cervejadas.
Hoje é 5 de março.
Hoje é o aniversário da minha irmã caçula mais velha.
Dá-lhe, garota!

terça-feira, 4 de março de 2008

Desata-me

No intervalo da hora do almoço:
Acerto com a seguradora no centro, ok.
Visita da engenheira da Caixa em casa, ok.
Pagamento das contas atrasadas no banco, confere.

Se fosse num daqueles filmes e seriados de espionagem classe B, eu teria acabado de alcançar o canivete no bolso de trás e - num passe de malabar - cortar parte das cordas que me imobilizavam os tornozelos.

Ainda assim... mal se soluciona um problema, receia-se a vinda de outros, ainda maiores....

... pois parece sempre haver um perigo a mais que se aproxima, um crepitar de serra elétrica no fim da linha, um tique-taque de relógio em baixo da cama.

(Ah, defeitos e baixos sentimentos, desatem-me. Preciso arrancar essa venda que me cega, essa mordaça que me cala e soltar os punhos que me hão de libertar.)

segunda-feira, 3 de março de 2008

Numa telinha domingo à noite

Pecados Íntimos: bom filme; história e direção interessantes, interpretação segura da Kate Winslet, mas, no fim, a reação de um dos protagonistas me pareceu inverossímil à sua psicologia. Foi a primeira impressão, mas acho que vou mudar de idéia. Pensando bem, já mudei. Falando em mudanças, o(s) sátiro(s) das traduções fez(izeram) das suas: ficaria muito estranho o equivalente em português de Little Children?

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Butch Cassidy and Sundance Kid: beleza, rever o clássico; e me surpreender rindo em vários momentos. Foi curioso (re?)descobrir no filme uma leveza até então despercebida, mesmo sendo a história baseada em fatos históricos. Fiquei desconfiado de que ele esteja com o CEP errado nas locadoras: poderia residir tranqüilamente nas seções de comédia/drama, em vez das prateleiras de bangue-bangue. Acima de tudo, Butch Cassidy é um conto sobre amizade.

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Era uma vez no oeste: assim como Butch Cassidy, o comprei pra começar a minha dvdtecazinha. Um dos melhores, senão o melhor, começos de filme que já vi. A trilha do Ennio é deslumbrante, marcante mesmo em vários momentos - como The man with the harmonica. Cabei não assistindo, até porque o vi faz pouco.

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Os Gols do Fantástico: Finalmente, o Galo parece ter superado a cisma (ou timidez, não sei bem) de vencer em casa pelo Mineiro, diante de sua própria torcida. Trama com cara de já te vi, elenco fraquinho.

A vida cor-de-rosa

Nelson Rodrigues dizia que “o grande ator” não pensa. Aliás, que não deveria pensar, emitir opiniões, juízos, etc. Deveria viver apenas para a vocação. Pensar no teatro, respirar teatro, tomar banho com o teatro.

Ele defendia a tese de que bastava o grande ator desocupar-se dos palcos para a realidade que - pronto - lá estava o sujeito a dizer as mais surpreendentes barbaridades. Sobretudo nos anos de chumbo, onde a massa teatral brasileira tinha atrações fatais e irresistíveis pela intelectualização política. Tudo o que o reacionário era contra: para Nelson, repita-se, atores, autores, diretores tinham que se preocupar exclusivamente com a montagem da peça, a qualidade do roteiro, o aplauso ou o apupo - a César o que é de César, ao teatro o que é do teatro.

Pois bem. Chego ao trabalho, manhã de segunda-feira cinzenta. Entro na rede para me inteirar do que acontece no mundo. Então, em certo portal de notícias, uma manchete desponta: “Vencedora do Oscar acredita em conspiração dos EUA no 11/9 - Atriz duvida ainda de que homem foi à Lua: 'Mentiram sobre muitas coisas'”.

Não vi o filme, que me foi bem recomendado. Imagino que deva ser atriz promissora, de dotes e recursos, a nossa bela Mademoiselle Cotillard. Tão jovem e já abiscoitando a estatueta famosa. Mas, eis a nota. Aspas:

A francesa Marion Cotillard, vencedora do Oscar de melhor atriz na semana passada pelo filme "Piaf - um hino ao amor", afirmou que tem dúvidas sobre a versão oficial dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.

"Eu acho que mentiram para nós sobre muitas coisas", declarou ela em um programa de TV exibido no ano passado, que ressurgiu na internet. "Eu tenho a tendência a acreditar em uma teoria conspiratória)", acrescentou.

"Nós já vimos outras torres também sendo atingidas por aviões. Elas queimaram? Houve uma torre, acredito na Espanha, que queimou por 24 horas. E nunca desabou. Nenhuma dessas torrres desabou. E em Nova York, em poucos minutos, a coisa toda desabou", disse.

(...)Ela também duvida de que o homem tenha chegado à Lua. "Ele realmente caminhou na Lua? Eu vi alguns documentários a respeito. Isso, realmente, eu questiono. Em todo caso eu não acredito em tudo o que as pessoas dizem".

Discordar de que jeito? É de fato quase impossível acreditar no que dizem as pessoas.