segunda-feira, 23 de abril de 2012

Delícia, delícia

Onde mais não sei, mas li um dia alguém observando que um gringo de passagem pelo Rio de Janeiro dificilmente encontraria butecos para experimentar ao vivo um show de bossa nova.

As músicas são as épocas - diria no facebook o Conselheiro Acácio.

E é pena, penso; pois, tendo o privilégio de poder viajar para o exterior, notar que os países valorizam suas distinções. Os traços culturais pelos quais se reconhecem e são reconhecidos, sejam a música, as artes, a arquitetura. Vá a Nova Iorque, decerto não lhe faltarão clubes de jazz; vá a Paris, estará lá o acordeon no metrô; vá a Buenos Aires, o tango redemoinha nas calles e casas do ramo.

E no Brasil? Cadê nossa bossa, nosso samba, nosso choro?

Percorrendo o interior da França num carro alugado, eis que, à parte um mundão de música francesa, toca o tal Michel Teló. Também no meio da Galeria Lafayette, na qual por um instante quase acreditei estar em pleno C&A do BH Shopping, onde jactanciosamente compro minhas bermudas baratas.

Aí é que está. Nada contra, ao contrário. Sem enrustir preconceito nenhum, não se trata de saudosismo. Esse mutatis mutandis musical é natural. Tudo o que hoje se entende como som mais genuinamente brasileiro, me parece, foi influenciado por gêneros musicais de outros reinos.

Em nossos quintais, se novas formas surgem - como funk, axé, forró "universitário" e suas respectivas subdivisões -, não vejo mal intrínseco nisso. Mas já chegou o tempo em que elas atingiram o paradigma de carteira de identidade de uma nação e só eu não estava ouvindo?

Porque, até onde entendo, esse apanágio ainda cabe ao samba, à bossa e ao choro. Aos tímpanos de todo o mundo, este ainda são, por enquanto, o nosso distintivo.

Penso, agora, na Copa do Mundo. Milhares de estrangeiros no Brasil. Onde vão ouvir um choro, senão em butecos da resistência? Sei que soa ingenuidade, mas quando imagino um clipe de futebol com imagens da seleção brasileira - outro ícone em decomposição - não me vem à cabeça "Delícia, delícia" - em que pesem as coreografias de gol em voga. Mas, sim, isto:


Taí. Minha esperança é um sujeito tipo Loco Abreu fazer três gols num domingo e pedir no Fantástico uma música do Pixinguinha.

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