segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Ti-au


Laka, a Akita das minhas irmãs, se foi.

É o que me conta mãe, por telefone.

Entrou em coma e não pôde resistir mais.

Tadinha, descansou. A bichinha já vivia doente há anos, num estado de penúria que dava dó.

Mãe revela ainda que as manas, sensíveis que são, estão em prantos.

Compreendo o apego. Tive um vira-lata chamado Ludo. Era apaixonado pelo cachorro. Então ele ficou doente e eu adoeci junto. Durante dois dias, não fui à aula, não comi, não dormi, fiz nada. Só chorava. A situação era irremediável, porém ninguém foi forte o bastante para dizer a verdade a um menino de dez anos. Inventaram uma conversa fiada para me tapear e deram um jeito de tirar o bicho lá de casa, me apaziguando com o papo de que Ludo estava sendo tratado e se recuperando bem lá na roça.

Digo à mãe que foi melhor assim. Adultas, Ju e Nanda se recuperam. O sofrimento da Laka, que era de arrancar suspiro, acabou. E sorrio ao telefone: agora é só arranjar outro cachorro.

Exacerbada, ela própria sentida, rebate:

- Nada!, lá em casa nunca mais entra cachorro nenhum. Arrependimento!

- Foi você mesma quem comprou.

- Porque na época sua irmã tava em depressão. Mas foi a pior coisa que eu fiz.

Uma pena. Mãe não consegue compreender que se fosse um pouco além da contrição presente, veria os inúmeros momentos de alegria compartilhada – e, por que não, dor e preocupação também - que a presença da Laka proporcionou em todos esses anos. Que foi ela a responsável direta por oferecer às manas a companhia e o apoio emocional que só um cachorro pode e sabe dar. E, acima de tudo, veria que ter colocado um cão em nossa família – mesmo contra seus princípios domésticos! – não foi a pior; foi a melhor coisa que ela fez.

Viver é isso, mãe.

5 comentários:

Tina Lopes disse...

Ah, mas eu também não quero mais cachorros na minha vida depois do PB. "Não quero mais amar a ninguém", sabe? As gatas eu acho fofinhas e tals, mas não são aquele amor que se tem por um cachorro.

Rubão disse...

Bem, cada um sabe onde dói mais, nenão?

Abraço,
r

PS. PB? Já conheci um cachorro com essas iniciais.

Sâmia disse...

Que dozinha! Mas é isso mesmo, né, a vida...
Eu ainda não vivi a morte de nenhum cachorro pq os pais sempre davam outro destino a eles antes.. Vou viver a do Chicão se Deus quiser (não gosto nem de pensar nisso!) e espero viver a de muitos outros depois... Viver sem cachorro não dá não, não tem graça...
Bjos!

K disse...

Triste é viver sem conhecer essa dor. Perdi vários amigos fieis durante a infancia.Seja por morte morrida ou matada ou dado a outrem pela minha própria mãe.De que material é feito as mães ?
E meus filhos, crescendo sem um cãozinho ? Culpa de quem ? Da mãe ?
Muito provavelmente.
Meus mais profundos sentimentos pela morte da Laka.

nanda disse...

Rubão, tá doendo demais...