quarta-feira, 2 de maio de 2012

Entorpecido

Hoje, é mais que sabido. Paris me ama, Paris me quer, Paris me precisa.

No entanto, vejam vocês como são as coisas. Não se ignora que a beleza é fundamental, trovaria o poeta. Beleza põe a mesa, diriam os antigos. E, no que se refere à beleza, sabemos que Paris é caleidoscópica, opulenta, superior.

Aí é que está. Beleza demais também extenua.

Sim, porque, após tomar intermináveis choques estéticos e sinestésicos - em Paris não há beleza sem minúcia nem minúcia sem beleza - o amigo deve considerar a possibilidade de existir, nas entranhas do visitante incauto, uma certa nostalgia do simples, do comum, do trivial.

Aí, como acontece com quem come filé mignon todos os dias, bate uma saudade da carne moída.

Convenhamos, este é um mistério da condição humana. Verificável em qualquer época e lugar, mas que se acentua em Paris. De fato, nada parece ter escapado à obsessão de um povo que pingou gênio em todas as artes - música, arquitetura, literatura - e em todos os reinos - Vegetal, Animal, Mineral, Concreto e Abstrato ou, não duvide, Ectoplásmico. Aposto cabelos eriçados que até na categoria assombração a capital da França mostrar-se-á mais chique que as outras.

* * *


Place des Voges





Arcos da Place des Voges

Cometi essa longa digressão só para contar que, passeando na encantadoramente acolhedora Place de Voges, reputada como uma das belas da cidade das belas praças, fiquei desnorteado com as esculturas de uma galeria que se abriga nos arcos dos edifícios de entorno. Esculturas de Bruno Calatano, série "Os Viajantes", que agora compartilho com vocês. Esculpidas em tamanho natural, não se pareciam com nenhuma das dezenas de estátuas que havíamos visto até o momento. Eram diferentes, originais e instigantes. Surpreendentes.

Mas o mérito maior do artista, pra mim, foi outro: acordar uma vez mais o olhar que se acostumara, por virtude de uma cidade que deslumbra e entorpece, a ver a beleza como algo, assim, habitué.












Essaí dava pra ter lá em casa, hein, Meg? "Os viajantes".




5 comentários:

Bruno Perpetuo disse...

Galeria de Medicis ainda serei seu vizinho. Me aguarde.
Quanto à carne moída do princípio de sua explanação só tenho a dizer que nem todos, meu amigo, sofrem desse "banzo", rs. Talvez só os de sangue baiano, ;). Abs

Tina Lopes disse...

Menino, pois eu vi com as galerias fechadas e fiquei lá feito cachorro na janela do açougue, admirando essas esculturas. Demais, né?

MegMarques disse...

Amore, nossa cara!
Super ficariam bem na sala.

Rubão disse...

Valeu, Bruno. Esqueceste da pimenta e farinha de mandioca.

Tina, é realmente uma coisa. Ao vivo, mais ainda. O artista tá de parabéns. Agora, nem Meg, que é ryca, se animou a entrar e perguntar "c´est combien".

Amore, concordo. Mas colocaríamos onde? Precisaríamos de uma nova sala.

MegMarques disse...

Amore, pra quê sofá?