sexta-feira, 16 de julho de 2010

Magia

Grosso modo, o Alan Moore costuma dizer que escrever é um ato mágico.

Que, ao escrever, você de certa maneira produz um ato de transubstanciação, trazendo algo que estava no plano das idéias, imaterial e intangível, para o plano físico.

Que, se a gente escrever com o vigor necessário, pode influenciar, transformar ou alterar a realidade.

Bem, é um jeito, não novo, de ver as coisas. Eu tento me colocar no lugar das mentes mais críticas que, sem dúvida, poderiam classificar tudo isso como papo-furado cheio de obviedades triviais. Mas, em busca de uma reflexão sem preconceitos, dou um passo atrás.

Não há problema nenhum um sujeito querer enxergar o ato de escrever como "mágico". É inofensivo. Talvez seja apenas outro jeito de encarar a ação de transmitir percepções, impressões, idéias.

E o fato de essas idéias, se forem fortes o suficiente, alterarem de alguma maneira uma realidade individual ou social, poder-se-ia (minha conjugação alta-costura do dia) afirmar que se trata somente de uma observação banal. Desde quando se disse que você deveria ganhar o pão com o suor do seu rosto - a idéia de trabalho - que as idéias são o motor e o combustível para o devir da condição humana. Neste caso, então, pouco importaria o meio de transmissão - oral, escrito, etc - pelo qual se dá a "magia" de manifestar um raciocínio ou pensamento.

No entanto, Alan insiste, em tom de constatação, sem a afetação ou desejo de persuadir de um desses gurus de auto-ajuda, que escrever é um tipo de magia.

Isso me faz lembrar uma passagem. Adolescente, me recordo de ter lido algo em um livro dos anos 60 chamado "O poder do inconsciente" (ou do subconsciente, seja lá qual o termo da moda à época), de um tal Joseph Murphy, creio, que dizia que você deveria escrever seus objetivos numa folha de papel e guardá-la. Quero uma casa com tantos cômodos, quero ganhar x por ano, quero um carro zero, etc, tudo nessa linha material. O fato de você ter escrito num papel e manifestado seus desejos no plano físico já colocaria em movimento secretas engrenagens cósmicas que trabalhariam, misteriosamente, para a sua concretização.

Bem, eu não sei. Sem entrar no mérito do que há de verdade e de ridículo nisso, percebi que nunca fiz algo semelhante não porque minha razão e ceticismo foram superiores, ou porque poderia ter dado uma colher de chá, naquela linha de raciocínio "se bem não faz, mal não há de fazer" (tipo, a cientista Marie Curie fixando uma ferradura na porta do laboratório). Creio que nunca materializei meus desejos em forma de palavras porque todos os exemplos dessa questão que tive a oportunidade de topar em diferentes autores - suspeitos e miraculosos como um Paulo Coelho ou honestos e desinteressados como o Alan - se resumiam ao elementar dilema de querer ficar rico.

E a minha verdade é esta, descobri hoje, não sem um pequeno alarde: Nunca quis ficar rico. Nunca pensei em dinheiro como um fim em si mesmo, raramente penso nas coisas como símbolos de status, carro pra mim é mais um meio de locomoção do que qualquer coisa, e, funcionalmente, um Rolex é tão eficiente e cumpridor quanto o dez real made in China da lojinha. E constato que minha visão sobre a riqueza (tenho a suspeita de estar equivocado e incorrendo em profunda ingenuidade) está ligada a algum tipo de culpa difusa; a impressão de que ser rico é algo que me incomoda, visto que, para eu ser rico nesse mundo, muita gente obrigatoriamente não será.

Não quero ser rico, não bate na minha alma. Por outro lado, bate na minha alma querer ser bem de vida. Sei que "bem de vida" é vago, mas é diferente de querer ficar rico, garanto.

Quero ficar bem de vida ao lado de quem eu amo, quero que tenham saúde e que eu tenha saúde, quero uma casa legal para morar, quero poder viajar, quero poder ler e aprender cada vez mais, quero de vez em quando poder cometer uma extravagância, quero uma vida simples mas divertida.

Pronto. Materializei meus desejos no plano físico (ou seria plano virtual? Será que funciona em web?). Sonhos de pequeno-burguês, verdade. Mas meus.

Se vai ter magia envolvida ou não, escrevo contando depois.

3 comentários:

MegMarques disse...

Bom, acho que o cosmo pode não entender esse vago "bem de vida". Acho que precisamos ser mais específicos:
-quero que o pedreiro nivele a entrada da salinha de tv que ficou torta
-quero que o pintor pinte os puxadores das portas dos armários também
-quero que o eletricista pare de enrolar, apareça no trabalho, e termine o serviço que ficou faltando
-quero piso e revestimento novos na cozinha e na área
-quero que a grama do jardim cresça
-quero uma jabuticabeira no quintal
-quero você sempre comigo!

K disse...

Que o universo diga amém .
Estou torcendo por vocês!

nanda disse...

Tb quero isso aí! Que continuemos desejando, pois pensamentos positivos têm alguma força pra atrair e materializar o que buscamos. Tenho provas disso. Abraços!!!