sexta-feira, 23 de julho de 2010

Fisiquices

Como se tornou freqüente nos últimos meses, hoje cheguei atrasado ao serviço por causa da obra. Com auxílio do Seu Zé, fiquei recolhendo entulhos para aproveitar o provável último dia da caçamba lá fora.

Muitas telhas velhas, restos de marcos, batentes e rodapés, latas de vários tamanhos, minha escada que quebraram e ninguém assumiu a façanha (filho feio é órfão), cacos, argamassas e galhos espinhentos de buganvília, etc.

As telhas encheram quatro sacos pesados, que deveríamos carregar dois lances de escada acima e vencer uns 15 metros de rampa da garagem (moraremos abaixo do nível da rua). E, como seu Zé já é um senhor de idade, pedi pra ele deixar comigo.

Deu pra suar. Só que agora percebo o seguinte. Não sei se é essa vida intelectual (ouço risadas aí?) que levo, mas estou sedentário há muito tempo e esse exercício, mesmo que breve, me faz sentir bem. Outro dia, meu braço esquerdo - cujos ossos do cotovelo saíram do lugar no Natal passado e que se ressentem do fato de até hoje eu não ter feito fisioterapia - reclamou muito quando me apoiei pra escalar um muro. Bem, hoje repeti o movimento e fiquei feliz por não ter sentido nenhuma dor relevante.

Em verdade, o que eu queria dizer debaixo de todos esses prolegômenos é simplesmente o seguinte: que tenho uma preguiça, uma preguiça terrível de academia. Do que entendo pra mim como academia: essa história de malhar pelo malhar, de puxar ferro por sua própria vontade (!) sem que haja um capataz com um chicote no seu lombo. Prazer próximo de zero.

Por outro lado, você - digo, eu - você também, por vaidade e saúde, não deseja ficar com o corpo flácido, atrofiado e barrigudo.

Instala-se o dilema: ao mesmo tempo em que gostaria de ficar em forma (ou, pelo menos, empreender uma vâ tentativa de contrabalançar a litragem industrial de cerveja consumida), você não suporta academia, caminhada, corrida, o escambau - tudo o que é atividade fechada com um fim em si mesma.

Explico. Pra mim, malhar por malhar (pra "ficar com um corpo sarado, definido", é o que dizem) não dá prazer. Correr por correr não dá tanto prazer. E a ausência ou a debilidade do prazer mata a motivação de vez ou aos poucos. Por isso nunca dá certo, a gente vive pagando matrícula, exame médico e mensalidade de academia e a abandona três meses depois.

Malhar por malhar, pela vaidade, não me é motivo forte o bastante. Malhar por malhar, pelo prazer do próprio ato em si, pra mim é sensação alienígena. Nunca entendi esse papo de neguinho babar de boca cheia quando fala depois de quinze mil supinos "Mó endorfina, véio", "Adrenalina na veia" e que tais. Garanto que esses trecos todos não correm nas veias de quem tem sangue baiano.

Mas o dilema permanece. Que fazer então para ficar saudável, em forma, sem desanimar e desistir de cara?

Sempre suspeitei que o que poderia funcionar, pelo menos no meu caso, é se aparecesse um jeito de a atividade física ter alguma função. Algum objetivo que extrapole a atividade física pela atividade física, que tenha uma utilidade. Porque aí, na minha mente funciona assim, eu tô suando, gastando caloria, tô exercitando braços, pernas, aeróbica ou anaerobicamente, mas tô fazendo alguma coisa útil pra mim ou pra alguém. Tipo: trabalhar de peão. Sim, trabalhar de peão. Misturar cimento, areia e água com a colher. Passar argamassa. Carregar saco de cimento. Ou tacar a enxada na terra. Capinar na roça. Plantio. Colheita. Jardinagem. Poda. Carpintaria. Pintura. Mecânica. Estes são os exercícios físicos, a academia que funcionaria pra mim.

Quando comento, Meg duvida, minha mãe duvidaria, meus amigos duvidam, todo mundo duvida e até eu tenho minhas dúvidas de que serei capaz de levar a idéia adiante. É óbvio, conhecem melhor do que eu a minha, digamos, tranquilidade. Mas o fato é que a mudança para um lar com área livre e quintal me atiça o desejo de aprender estes ofícios práticos e botar pra quebrar, sujar as mãos de terra e de barro e de massa. Porque aí junto o útil - a realização de alguma coisa - com o agradável - a consequente perda de peso e fortalecimento.

Estou animado. Bricoleiros de todo o bairro, me aguardem. Cervejeiros também.

3 comentários:

Rodrigão disse...

Rubão, to precisando de alguém pra fazer uns servicinhos aqui:
- cortar a grama do jardim;
- pintar a casa(Só alguns cômodos);
- desmontar e montar um guarda-roupa de um quarto para outro;
- montar o berço do bebe;
- laquear alguns móveis (coisa pouca);
- entre outros pequenos afazeres.

E aí Rubão..... se habilita???
Aguardo contato..

Abraços,

Rodrigão.

Rubão disse...

Fique tranquilo. Como tu é chegado, parcelo o pagamento dos serviços em 6 prestações + cervejas included.

Letícia Silviano disse...

Rubens, aqui vai meu palpite com quase três semanas de atraso.Você tem que achar uma atividade física da qual goste, essa coisa de malhar por obrigação não funciona mesmo, fica um tal de começa e para, matricula e desmatricula...

Você já considerou a possibilidade de fazer alguma dança? Talvez até acompanhado da Meg.Quem faz diz que é uma super atividade física, malha muito e diverte, sem ficar aquela sensação de "faltam x abdominais para terminar a série" ou faltam "x minutos para terminar a corrida".

Meu pai é adepto da sua teoria. Desde que se mudou de apartamento para casa, vive fazendo milhões de atividades de pedreiro,carpinteiro, pintor etc.

Bjos.