Todo mundo gosta de fazer um agradinho ao outro. Não fujo à regra, embora certos programas fujam ao meu curtíssimo rosário pessoal de predileções sem restrições - como butecos, por exemplo.
Já fui sujeito mais resistente e bronco, e por isso devo desculpas póstumas àquelas que outrora tiveram de aturar minhas evasivas e escapadelas aos passeios que me deixariam culturalmente menos despreparado. Mas hoje estou mudado, sou um homem melhor e até encaro na boa um museu - exatamente o programa do próximo fim de semana. Agora, me sinto mais à vontade nesses ambientes do que antes. O passeio é valorizado, imagino; chego a fantasiar que ganho pontos, meu cartaz sobe.
Mas, ai de mim. Sou uma anta plástica, um gnu para a pintura, um mandril para as artes presentes, passadas e futuras. Avizinha-se a ida a qualquer museu e já começam meu drama e minhas trapaças. Tudo, tudo para impressionar. Ou não causar má impressão.
A via sacra se inicia na investigação prévia no site do museu para descobrir o que está sendo exposto. Continua a peregrinação nos sites de busca à cata de informações sobre os autores, o acervo, as fases de cada artista, o que cada obra significa, etc., etc.
É preciso treinar em casa, frente ao espelho, a cara de inteligente e a pose de “sabido, porém discreto”, além das interjeições, para não ficarem inverossímeis: “Hmmm” , “Hmmmmmmmmmmm” e “Hm”, esta a cerrar os olhos e inclinar a cabeça um pouco para a direita para mostrar que você não é homem só de certezas, também é capaz de dúvidas; “ah” e “Ooh”, discretos e murmurados, afinal, qualquer admiração dos finos deve ser contida e comportada; e, provavelmente, “Bluowrllooorp”, o ronco do estômago vazio que você terá de abafar, pois está faminto após horas de hmms e oohs.
Mas grunhidos de admiração calculada não serão suficientes, certamente. Desde já, estou decorando expressões para, em caso de argüição, emitir uma opinião crítica e consistente sem envergonhar a ninguém. Imagina: perguntam a você o que achou da pintura à sua frente e o máximo que você consegue é torcer o beiço fazendo bico e dizer - “Bacana”? Não dá. Para comentar obras de arte, eis adjetivos, substantivos e verbos preciosíssimos:
- “interroga",
- "problematiza"
- "reverencia"
- "inverte"
- "transgressivo"
- “dialoga”
- "virtualiza"
- "interstício"
- "tessitura"
- "lúdico"
- "potencializa"
- “seminal”
Poisé, o que a gente não faz pra não fazer feio. Sou tosco mas não me acovardo, vou atrás do meu verniz de cultura.
Pelo menos cubro a superfície.
11 comentários:
Kakakaka. Ora, esqueceste as táticas faficheiras?
Hahaha! Aleta, desconfio que nem todos que aqui vêm concordariam com você...
Mas, cá no divã, esse é o espírito: não defendo o direito de te expressares, mas discordo até a morte do que dizes!
Bem, independente de verdades (sempre relativas), posso apenas informar que, para o MEU gosto, 90% do moderno e 98% do comtemporâneo são umas merdas de fazer gosto, rs... Não sei quem é o Muxibox mas vou com ele na linha de pensamento (sem a mesma raiva, claro, rs).
Mas, sobre os comentários, a dica é falar sempre uma bobagem do gênero: "interessante, notadamente o artista conseguiu seu intuito, passar sua personalidade à obra e isso é o mais importante: sua obra ganha vida".
Serve de Tunga a Eliseu Visconti, rs
Grande abraço
Bruno, o Perpetuo
Rubão, nessa você se superou. Agora, fala sério: Rubão, Bruno Perpétuo e Léozinho são um time de comentaristas de futebol, não, de obras de arte..kkkkkkk
Bruno, Muxibox é Aleta! Depois entra lá no meu blog tb!
Leo, faz tempo que deixamos a Fafich.
Bruno, dica valiosíssima. Outra interessante adição para o arsenal.
Doug, de fato, futebol é mais para o meu nível.
A todos, valeu a visita!
HUAHUAHAUHAUAHUAHAUAHUAHUA
Adorei o post!!!!
Mas ò, se ir a museus e galerias te causa tanta angústia, a gente faz assim: eu entro, visito a exposição e vc me espera lá fora, no buteco mais próximo.
E eu AMO arte contemporânea!
Doc, como falei, angústia nenhuma. Pelo contrário, ainda mais em sua companhia. Bj,
r
Hehehe... Muxibox? Aleta, com um nome desses imaginei um motoqueiro gordo que perdeu as pernas em um acidente nos anos 80 e agora, já velho, descobriu uma maneira de se relacionar pela internet, rs. Vou passar a dar umas olhadelas lá também.
Meg, você também ama o Rubão... tá explicado, UHAuhuhHhUhAh
Beijos a todos,
Bruno, o Perpetuo
hahahahaha, Bruno seu besta, o Rubão é uma obra-prima, visse?
beijos procê!
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