terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Escola: comos e porquês

"Os bichinho tão criado
Sastifiz o meu desejo
Eu podia discansá
Mas continuo vendendo caranguejo"

Vendedor de caranguejo

A despeito dos riscos de uma socialização de menor intensidade na educação de uma criança, não seria melhor um tutor do que uma escola?

Diante das circunstâncias, me parece uma interrogação honesta. Face ao nível do estudo público, face aos custos do estudo privado, e, no comum a ambos, tratando-se do caso brasileiro, a tônica de privilegiar não a verdadeira aprendizagem, mas a preparação para o vestibular.

Cenário de desafio. Cada vez mais, menino sabe menos. Decora muito, depois esquece tudo. É ou não é? Isso se não se rebela, quando lhe impõem goela abaixo dezenas de livros cronologicamente deslocados ou as intragáveis integrais e derivadas - proveitosas para atividades bem específicas, ou de aplicação muito distante do mundo prático do dia a dia (sem crase, devido à famigerada reforma). Pronto, fica criado o dique psicológico - dificilmente aquele determinado fluxo de conhecimentos vai no futuro conseguir atingir a foz e se integrar ao mar.

É certo que há por aí toda uma literatura pró e contra sobre o assunto. Debates, críticas, opiniões, teses, artigos, bate-bocas, posts, reportagens - enfim, defesas de modelos pedagógicos distintos, de reformas, de propostas híbridas, etc.

Mas, como uma revolução ampla no ensino público ou privado parece hoje mais uma utopia, por que não a tutoria - se à família fosse economicamente possível e humanamente viável?

Forçar-me esta reflexão me leva, inevitavelmente, a outra pergunta: - qual o sentido da escola? E por conseguinte: que escola queremos? Que escola é útil à sociedade hoje em dia? A que prepara o vestibular? A que educa para o trabalho? A que forma técnicos para preencherem as poucas vagas working class? Como um sistema de ensino popular poderia reconhecer e promover talento individuais diferentes sem esmagá-los com uma carga massificante e padronizada?

Outro dia, estive a saber como era organizado o conhecimento, transmitido em certos círculos, durante a Idade Média. Falo do Trivium e do Quadrivium.

(continua)



2 comentários:

Anônimo disse...

Suas reflexões tem (com/sem circunflexo?) muita propriedade. Aguardo a continuação. Ao intervalo, digo que Claudia Miguez, no Arizona, vem educando Ingrid, 11, fora da escola. Bom? Ruim? Não sei. A socialização da criança da-se nos encontros de familias amigas, com gente da mesma idade? Nas escolas dominicais, que certas igrejas praticam?
A.None Moh

Rubão disse...

A. None Moh, por caridade, não diga que MINHAS reflexões têm alguma propriedade: por princípio, a princípio e em princípio, sou contra a propriedade privada dos meios de reflexão.

Boutade a parte, acredito que esta, entre outras, é uma charada que a nossa sociedade atual ainda não sabe responder. Até porque o ensino se interrelaciona com outros aspectos da política, cultura e sociedade de um determinado recorte histórico e antropológico.

Por exemplo. No nosso caso, digamos, pra começo de conversa, só um aperitivo: ensino é dever do Estado? Sim, não, talvez, por quê, que tipo e em que medida? Nem chegaremos à questão da socialização infantil em tutorias: isso já é lenha de fogueira pra três botecadas seguidas.

Enfim. O que me preocupa, acima - ou melhor, abaixo de tudo - é que, na atual quadratura, nenhum estudante parece ser estimulado desde cedo a enfrentar o maior desafio que se possa apresentar à formação de um ser humano desta e de todas as épocas: pensar por si mesmo.