sexta-feira, 27 de abril de 2012

O gancho



Tudo pelo Poder: recomendo. Ressentir-se-ão (opa, quequeisso) os mais habituados aos ritmos frenéticos de um blockbuster, mas pro bacana, aqui, que curte uma boa trama, o filme vem muito a contento - como quase tudo que Mr. Clooney se envolve.

O enredo trata das prévias do Partido Democrata, o embate entre dois pré-candidatos no, muitas vezes pesado, mas sempre astucioso, processo eleitoral. Vale tudo, principalmente golpe abaixo da cintura.

Meu chute é que, ao expor os intestinos do jogo político, os mesmos esquemas valem para qualquer país ou época. Basta trocar os atores. Por exemplo, eu podia jurar que vi o Michel Temer disfarçado ali.

No fundo, o filme acaba desmistificando a figura do político "santo", seja de direita ou de uma pretensa esquerda, convidando o telespéqui também a um cinismo salutar - serviço que presta a idealistas e ingênuos. George demonstra, uma vez mais, que é um cara engajado (deliberadamente se permitiu ser preso com o pai, para denunciarem uma situação de abuso internacional: google aí) e virimexe os filmes com que se envolve têm esse punch, essa pegada política forte.

Com Tudo pelo Poder, o bonitão continua em forma. E com um bom gancho, querendo ou não, de esquerda.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Memória fotográfica


"Entre 1888 e 1927, Eugène Atget fotografou Paris e seus arredores meticulosamente, capturando em milhares de fotografias parques da cidade, ruas, edifícios e seus habitantes."

Pois uma delas lembra muito nosso percurso diário no 13eme. Descíamos na estação de metrô da Place d´Italie, ir caminhando por uma avenida até o inicinho da Rue des Cinc Diamants.  Olhaí, amore. Nenão?




segunda-feira, 23 de abril de 2012

Delícia, delícia

Onde mais não sei, mas li um dia alguém observando que um gringo de passagem pelo Rio de Janeiro dificilmente encontraria butecos para experimentar ao vivo um show de bossa nova.

As músicas são as épocas - diria no facebook o Conselheiro Acácio.

E é pena, penso; pois, tendo o privilégio de poder viajar para o exterior, notar que os países valorizam suas distinções. Os traços culturais pelos quais se reconhecem e são reconhecidos, sejam a música, as artes, a arquitetura. Vá a Nova Iorque, decerto não lhe faltarão clubes de jazz; vá a Paris, estará lá o acordeon no metrô; vá a Buenos Aires, o tango redemoinha nas calles e casas do ramo.

E no Brasil? Cadê nossa bossa, nosso samba, nosso choro?

Percorrendo o interior da França num carro alugado, eis que, à parte um mundão de música francesa, toca o tal Michel Teló. Também no meio da Galeria Lafayette, na qual por um instante quase acreditei estar em pleno C&A do BH Shopping, onde jactanciosamente compro minhas bermudas baratas.

Aí é que está. Nada contra, ao contrário. Sem enrustir preconceito nenhum, não se trata de saudosismo. Esse mutatis mutandis musical é natural. Tudo o que hoje se entende como som mais genuinamente brasileiro, me parece, foi influenciado por gêneros musicais de outros reinos.

Em nossos quintais, se novas formas surgem - como funk, axé, forró "universitário" e suas respectivas subdivisões -, não vejo mal intrínseco nisso. Mas já chegou o tempo em que elas atingiram o paradigma de carteira de identidade de uma nação e só eu não estava ouvindo?

Porque, até onde entendo, esse apanágio ainda cabe ao samba, à bossa e ao choro. Aos tímpanos de todo o mundo, este ainda são, por enquanto, o nosso distintivo.

Penso, agora, na Copa do Mundo. Milhares de estrangeiros no Brasil. Onde vão ouvir um choro, senão em butecos da resistência? Sei que soa ingenuidade, mas quando imagino um clipe de futebol com imagens da seleção brasileira - outro ícone em decomposição - não me vem à cabeça "Delícia, delícia" - em que pesem as coreografias de gol em voga. Mas, sim, isto:


Taí. Minha esperança é um sujeito tipo Loco Abreu fazer três gols num domingo e pedir no Fantástico uma música do Pixinguinha.

A experiência


Desde que a atraente Buga preferiu esposar Ugh-Dois-Dentes a Kalu-Cabeça-de-Macaco, para desalento deste, numa tribo esquecida da nossa proto-civilização, sabe-se que nada é mais antigo e pessoal do que uma predileção estética. Bom ou mau, segundo os olhos de quem julga, gosto é e sempre foi gosto.

No belíssimo Museu d´Orsay, em Paris, já tínhamos visto o Louvre. Ou seja, obra de arte de tudo quanto há, de tudo quanto é lugar, época, etnia e estilo. Sem falar no palácio per se.

Mas o trem é que, na hora que vi as pinturas de Van Gogh, amigo - senti que estava diante de algo distinto. Pinceladas, cores. É bonito. Não sei explicar.

E sentir é o verbo. Senti que Van Gogh é diferente. Mas não consigo0 explicar nem entender por que é diferente. Não disponho de conhecimentos técnicos suficientes para convencer ninguém. E, no fim, sabemos, seria inútil. Pessoa pode olhar para obra-prima de Van Gogh, de imenso apuro estético, segundo os especialistas, e ficar indiferente, ao passo que - eu, hein - pode ter um transe apoplético diante de um sanitário de Duchamp. It´s really personal.

O fato é que, pra mim, depois do salão de Van Gogh, o resto do d´Orsay virou paisagem. Um luar de Paquetá, domo diria o Nelson.

Mas ainda havia muito mais para ver e sentir.

* * *
De um gênio para outro, aproveito o ensejo para lamentar - antes tarde do que mais tarde - publicamente a partida de nosso talvez maior intelectual brasileiro. Estávamos lá em Paris quando soubemos da morte do Millor Fernandes.

Gogh e Gogo: duas vidas que não foram em van.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Eu e a urubóloga, side by side

Ternurinha

Estudante universitário, tive o infortúnio de me sentar bem ao lado da urubóloga, numa reunião entre representantes de curso, professores e ela, convidada para palpitar (descer o cacete) sobre o estado de coisas da UFMG.

Era época de Paulo Renato, auge do sucateamento do ensino público, a fim de dar ensejo a futuras privatizações. Estado enxuto, etc, aquele ideário neolibelê de sempre.

Ela lá, falando que nossa universidade não prestava, que os cursos de comunicação eram deficientes (ah é,cê jura?), que isso, que aquilo era deplorável. Obviedades à parte, metendo o pau na gente (a faculdade vivia à míngua, com greves, sem recursos do governo FH - lembra a mudança na aposentadoria = professor doutor com anos de casa pedindo boné e professor substituto inexperiente entrando no lugar). Surpreendentemente, os professores lá, encantados, dizendo amém pra tudo que dona Miriam falava, como se fosse o próprio João Batista.

No mei daquele bando de baba-ovo, adivinha quem foi a única voz dissonante?

E, ao contextualizar, ainda fui chamado de anacrônico. Ou romântico, não sei bem.

Provavelmente porque o termo depreciativo "esquerdopata" não existia.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Organização criminosa fazendo jornalismo



Dá-lhe, Protógenes! Falou tudo, tudo o que há tempos tá entalado na garganta!

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Inconsolável Paris

Paris me ama.

Senti isso desde que me viu pela primeira vez.

O que provocou tal paixão? O que Paris terá visto em mim? Nem eu mesmo sei. Meu palpite é que nem todos nessa vida têm a boa estrela de nascer em Teófilo Otoni.

O fato, amigos, o fato é o seguinte. Paris tentou me seduzir de todas as maneiras, fez uso de seu arsenal desde o primeiro instante. Era um encanto a cada 8 minutos, uma surpresa a cada quartier, apresentando-se sempre magnífica, sempre estonteante. Superlativa e caleidoscópicamente bela em todos os sentidos: museus, catedrais, parques, ruas, bistrôs... como bem disse Meguinha, um buquê de sensações.

Bem, aí sucedeu-se todo o imbróglio da viagem. Paris não lidou bem o fato de eu já ser um homem casado. Exigiu exclusividade. Como havia feito com Hemingway, Picasso e a tantos outros, me queria prostrado a seus pés.

- Impossível, eu disse. Amo minha mulher. E lembra de onde eu vim? Nós, teofilotonenses, somos durões.

Aí - como sói ocorrer com o humor das divas acostumadas a ter todos os caprichos satisfeitos - fechou o tempo.

A relação esfriou, com dias de baixas temperaturas. Pelas manhãs, dava-me tapas de vento na cara.

Mas de nada adiantava. Perdidinha por mim, Paris não deixou de verter suas lágrimas, obrigando-me inclusive a adquirir um guarda-chuva.

Por fim, ao ver que seus esforços eram inúteis, aceitou os fatos com alguma resignação. Então seu semblante desanuviou-se. Fez-se no céu um azul de Giotto; nos jardins, flores se abriram; nos parques, o sol brilhou sobre a verde pelúcia.

Já no aeroporto, prestes a embarcar de volta à minha vida nos trópicos do hemisfério sul, travamos nosso derradeiro diálogo:

- E nós, Rubão?

- Não.

- Fique, eu imploro. O que vai ser da minha vida sem você?

- Você vai sobreviver.

- É assim? Tudo acabou?

- No fundo, nós dois sabemos que eu tenho que pegar aquele voo com a Meg.

- Vamos nos ver novamente algum dia?

- Não sei, Paris. Mas talvez este seja o começo de uma bela amizade.

Entrei no avião sem olhar pra trás.