terça-feira, 30 de novembro de 2010

Uma idéia

A despeito do pênalti não marcado a favor dos merengues quando a equipe blaugrana estava com 2 a 0 - e um gol nesse instante poderia mudar o andor da partida -, o meu, o seu, o nosso Barça, o Barça de quem gosta do futebol antibrucutices, deitou e rolou. Foi uma traulitada.

A despeito de ter como adversário o Mourinho, o treinador mais matreiro do mundo.

A despeito de Cristiano Ronaldo, que voltou a atuar bem e a ser decisivo, embora no clássico tenha jogado pedrinhas.

No fim, fica que lição?

Pra mim, fica o óbvio: o negócio é jogar bola. Se ganhar jogando bola, maravilha. Se perder jogando bola, menos pior: a equipe terá dado o melhor de si.

Faz uns dez anos que o óbvio consolida uma marca, constrói uma cultura e agiganta uma nação.

O óbvio grita, geme e esperneia estampado no leme do time catalão - "més que un club".

O Barcelona não joga futebol. O Barcelona joga uma idéia.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Batismo de água

Pela primeira vez, Nelson Rodrigues e seus bigodes buliçosos experimentaram o que significa um banho de rio.

Domingo cedo, pintou céu bom. Que tal ir à Aldeia? Vamos. Contudo, caí na besteira de só ter a idéia depois de ter alimentado o bicho. Não deu outra: vomitou dentro do carro. Mas a besteira foi minha. Nelson já deu indícios de que é um cão tranquilo para viajar e que não dará trabalho.

A Aldeia é um condomínio fechado em Brumadinho, a 30 minutos da capital. Serra, mata atlântica, cascatas, sombra e água gelada.

Com 5 meses de idade, achei que havia chegado o momento. Nelson é um labrador. Labrador é assim, ó, com água. Então colocamos o comportamento histórico da raça à prova.

Meg adentrou o leito raso e ele a seguiu. Numa parte onde ele não dava pé, titubeou. Tentou em vão escalar uma pedra. Ou era desistir ou nada. Então o bicho tomou coragem e foi nadando até Meguinha.

A partir daí, pronto. À medida que ia perdendo o medo, arriscava cada vez mais, nadando como se soubesse fazê-lo tal qual gerações de cachorros antes dele.

Uma hora deixou o riacho. Estava elétrico. Voltou para as águas, nadando, bufando e seguindo, ora a mim, ora a Meg. No fim, era um pequeno bólido preto costurando o leito feito agulha.

Meu cão não é mais pagão. Foi bom.

Nelson Rodrigues. Batizado nas águas de Brumadinho, em 28 de novembro de 2010. Por obra do pai, da Meg e do espírito santo dos cachorros. Amém.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Pega geral

Os ataques no Rio. Pelo menos a maioria dos meliantes dá à população carioca a chance de abandonar os veículos e as pessoas ainda não estão morrendo carbonizadas. Ainda. O show de horror seria completo.

* * *

Por sincronia, vimos ontem Tropa de Elite 2. Em termos de cinema, é menos azeitado do que o primeiro - superior em trama, atores, apelo dramático. Em termos de sociologia butecal, é mais politizado e, talvez, politizante. Enfim, é um bom filme.

A relação do conteúdo do filme contrapostas às cenas assistidas agora no Rio: a coisa toda é muito complexa e intrincada. Para analisar e sanar, seriam precisos livros e pequenas grandes revoluções.

* * *
Chateado fiquei durante as propagandas e trailers. Veio um comercial da Caixa sobre o dia da consciência negra ou algo assim, com locução de poesia em off, belas imagens de negros com dorsos nus em prais e negras em vários contextos sócios-culturais, etc.

Pois bem. No fim, junto com a legenda "Dia da Consciência Negra", vem um sujeito e diz "Sou Fulano de Tal um dos 14 mil funcionários da Caixa afrodescendentes".

Pombas. Qual o problema de chamar a pessoa de negra? De se assumir negão? Preconceituaram o substantivo negro. Que passa? Não se pode falar que o fulano é negro porque chamar alguém de "negro" pega mal? E pegaria mal por quê?

Como diz vovó, bobajada.

Afrodescendente. Parece até nome de doença. As pessoas cochichando: "Cuidado, ele tem afrodescendência". "Isso pega?"

Se é para ser hipócrita, então daqui em diante terei que chamar minha mãe de afrodescendente, meu pai e minhas irmãs de iberodescendentes e você, quando se referir à minha "etnia", por favor, me chame de SRD.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A entrevista de Lula aos blogueiros

Sinal dos (novos) tempos: Lula deu uma coletiva ontem à turma da blogosfera que lhe é simpática. A reação ciumenta e desqualificadora da velha mídia começou ontem mesmo: Dora Kramer, Folha, Reinaldo Azevedo, Serra (para o limpído Serra, Lula é o Pai da Mentira), entre outras damas e cavalheiros notáveis.

Mas a entrevista para blogs - nem todos são de jornalistas - é simbólica, pois representa um pequeno alento de avanço progressista nessa batalha da informação (percepção, na verdade) das pessoas, da agenda política da semana, da conversa nos botecos, dos murmúrios dos becos, da prosa na pausa do cafezinho, da realidade nossa de cada dia.

Porque é preciso ter um contraponto de informação e filtro da realidade antagônico à velha mídia das famílias oligarcas - Marinho, Frias, Mesquita e Civita - até para, dialeticamente, o sujeito poder comparar diferentes pontos-de-vista e formar seu juízo sobre o que acontece no país e no mundo. Para que, gradativamente, a consciência do Zé da Honorina atinja massa crítica e ele seja capaz de pensar por si mesmo.

E você, meu caro, minha cara?

Até agora você só vê GloboNews e Jornal Nacional? Só interpreta a realidade pelas páginas da Folha, do Globo e do Estadão? Só enxerga a vida pela perspectiva de Veja?

Em que mundo você vive?

E, mais importante: em que mundo, em que país e em que democracia você quer viver?

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Um brasileiro

Tenho cada vez mais ouvido falar do Miguel Nicolelis. O neurocientista por trás do desenvolvimento de um projeto educacional inovador na periferia de Natal (RN), uma das regiões mais carentes do país.

Nicolelis acaba de lançar um manifesto: Ciência Tropical. Vale a pena.

Por tudo que já li, vi, ouvi, esse palmeirense Nicolelis só dá bola dentro.

É um grande brasileiro.


Um gentleman

Eu realmente deveria atualizar minha lista de links. Enquanto tal não acontece, reparto com os três leitores do blog o caminho que leva ao José Geraldo Couto.

José Geraldo Couto é um gentleman. Um gentil-homem - desses anacrônicos, sobretudo se pensarmos nas penas hidrófobas da imprensa de hoje. E olha que o homem trabalha na Folha!

Se você quiser ler boas críticas de cinema, vá lá dar uma passadinha no Zé Geraldo.

Pena que o Zé não trate também de futebol, metier através do qual a gente se correspondeu anos atrás. Episódio em que guardo a lembrança do sujeito educadíssimo que se digna a arrumar tempo para ler e responder ao que você lhe escreve.

É isso. Além de não ser afetado, ególatra ou metido a besta como a maioria dos seus colegas de crítica - seja de futebol, cinema ou política - O José Geraldo Couto dá atenção a você, responde a todos os comentários.

Um gentleman.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Homilia verde

O mundo em guerra cambial, os republicanos em maioria no Congresso americano, o neorecrudescimento da xenofobia na Europa e do preconceito no Brasil, o uso deturpado dos combustíveis nucleares, a censura na China e na Coréia do Norte; e cá se encontra este blogueiro a divagar sobre o jardim .

Entretanto, de jardim não se pode chamá-lo. É o eufemismo para uma área nos fundos do apartamento que revela, aqui e ali, evidências arqueológicas de um projeto paisagístico, com fantasmas de trepadeiras nos muros, resquícios de antigos canteiros nos flancos e vasinhos outrora abandonados.

Salvo dois pés de buganvília e um de limoeiro improdutivo, a ignorância agrária não permite identificar mais nada. Nem os brotos à direita, nem as plantas à esquerda; nem aquele espécime florescente em vermelho-vivo que o colibri mais gosta e pelo qual nos visita todas as manhãs, nem sequer a copa que, diária e anonimamente, troca a sombra por um pouco de água.

Esse legado verde que nos deixaram revelou, sem querer, uma pequena heresia bíblica. Nós, as gentes urbanas, versadas no trânsito das gôndolas dos supermercados, apalpando e escolhendo todo dia o que melhor nos aprouver, conseguimos a façanha de contradizer a Palavra: reconhecemos os frutos e, paradoxalmente, desconhecemos as árvores.

Este é, naturalmente, meu caminho primeiro para a espiritualidade. Regar, cavar, semear, plantar, podar, colher. Nos dias santos - em que a disposição sobrepuja a preguiça - dispensarei o duro rito das igrejas em favor da agradável liturgia dos quintais.

Mexer com o verde é uma espécie de comunhão. Fiel, enfie a mão na terra você também.


Time of my life

Finalmente saíram os papé de divórcio de Meguinha.

Simbora, nega.


quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Escuta essa

E o Protógenes, hein? As instituições e cidadãos mais respeitáveis do país parecem odiá-lo.

Deve ser a prova cabal de que é um homem de bem.

* * *
Anteontem podei tiririca no gramado do meu quintal. Há dias tentam ceifar o deputado eleito no tapetão.

No primeiro caso, é jardinagem. No segundo, é o quê?

* * *
Os débeis mentais de classe média alta que espancaram homossexuais na Av. Paulista foram soltos rapidinho. Segundo o relato de testemunhas das agressões, chegou um momento em que eram cinco contra um.

Se tem alguma piada aí, só pode ser sem graça.

* * *
Sílvio Santos descobriu como saldar o rombo do PanAmericano: vai sacar o FGTS da Hebe Camargo.


Vida em condomínio, por Relembrando Braga

Recado ao Sr. 903

Vizinho,

Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal - devia ser meia-noite - e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 - que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar às 21 :45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas - e prometo silêncio.

...Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: "Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou". E o outro respondesse: "Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela".

E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Experiência

Hoje aprendi que síndico não tem amigos.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Peraí

Ok, houve falhas mais uma vez. Mas a má vontade dos colunistas e editorialistas dos meios de comunicação tradicionais com o ENEM é de lascar.

Por exemplo, escutar os apocalípticos Míriam Leitão e Merval Pereira na hora do almoço na CBN.

Pela interpretação da realidade desses dois, você não atravessa a rua para chupar um chicabon. É capaz de abrir uma fenda descomunal no chão (causada pelo PT) e dragar tudo o que estiver por perto, inclusive o vendedor de picolés, que, se bobear, faz ENEM porque tem esperança de estudar um curso superior.

Peraí.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Per inciso

A propósito, antes não dei mas agora darei meu pitaco, que, como se sabe, esperam os leitores deste blog e a imprensa mundial.

No recente torneio mundial, realizado na Itália, Bernardinho - sem dúvida o mais competente treinador de esporte coletivo da contemporaneidade - cravou uma tremenda bola fora.

Essa mentalidade que hoje permeia nossos esportistas, muitos comentaristas, o colega de trabalho, o amigo de copo e, preocupantemente, nossa juventude, filhos e quetais, é somente um sintoma de, digamos, um tempo triste. Mas que se deve enfrentar, visto que o que entendemos como esportividade - esportividade mesmo - não pode e não deve diagnosticada levianamente como vitória a qualquer preço.

Essa doença - ganhar a qualquer custo - esvazia dos triunfos o que têm de mais precioso: o valor de seu mérito indiscutível.

No paroxismo: é melhor perder a Copa com Zico e Cerezo em 1982, por exemplo, do que ganhar o ouro em 1988 como Ben Johnson.

Por Nelson e seus Bigodes Buliçosos! Que importa se ganhar uma partida implica pegar um adversário teoricamente mais forte? Ou que comprometa fisicamente tua equipe, no caso de ser bem-sucedida naquela etapa, para os confrontos finais da competição? Ou, ainda, que as regras da competição tenham sido elaboradas no voleio de dados viciados?

Bobagem! A vitória, se sobreviesse ao final contra tudo e contra todos, imporia à tal equipe o risco de se eternizar em uma página de glórias imortais.

Como disse Mestre Tusta outro dia: a ética tem de estar acima da razão.

A quase contrição e o declarado constrangimento que o treinador da seleção masculina de vôlei e alguns dos seus comandados demonstraram por conta desta questionável conquista já é um sinal de que, lá no fundo, sabem que erraram e traíram suas convicções. E, por isso mesmo, mostram que são gente boa.

Não é uma nódoa na carreira de Bernardinho e seus bluecaps que vai conspurcar a carreira incomparável de vencedores. Mas será o detalhe: aquela manchinha de vinho que aparece na lapela da fotografia oficial do álbum de recordações da História. Vinho italiano, per inciso.


O cosmonauta

Coincidência ou não, hoje no blog é dia de falar de heróis.

Leio no Nassif que hoje é aniversário do Carl Sagan.

Como tributo, segue um trechinho de um livro que, acaso ou não, está à mão.

"... Concordo que a humildade é a única resposta justa no confronto com o universo, mas não uma humildade que nos impeça de querer descobrir a natureza do universo que admiramos."

"...Algo que chama especialmente a atenção na cultura contemporâneea é como são escassas as visões positivas sobre o futuro imediato. A mídia mostra todo tipo de cenário apocalíptico, futuros medonhos. E há uma tendência nesses prognósticos de ser uma espécie de profecia que se concretiza.

Não é raro vermos uma projeção de vinte, cinquenta ou cem anos no futuro, de um mundo em que tenhamos recobrado a razão, em que tenhamos entendido as coisas? Podemos fazer isso. Não há nada que indique que nesses desafios nosso fracasso seja inevitável."

O bigonauta

Não concluí ainda a leitura dos Diários do Beagle - influência da Dra. bióloga, decerto. Mas o caso é que não consigo deixar de imaginar aquela quadra da vida do naturalista como algo hollywoodiano na linha de "As Aventuras do Jovem Charles Darwin". Troque o chapéu e o chicote pela rede de pesca e o martelinho de pedra.

Darwin foi, como é qualquer um de nós, produto do seu meio, sua época, seus preceitos e preconceitos. Talvez espante saber que, em suas andanças pelo Brasil, os pampas, a Terra do Fogo, o Chile, o inglês muitas vezes resolvia a fome no gatilho, sem poupar bicho que se preze. O que você conceber que caminhe em mais de uma pata ele deve ter comido. Talvez a Teoria da Evolução não existisse se os naturalistas da época fossem os macrobióticos e vegetarianos ecochatos de hoje.

Piadas à parte, o que não ia pro bucho do homem ia pra a coleção, e dá pra notar, em comentários aqui e ali, os germes primordiais da idéia revolucionária que nasceria anos depois.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

CPMF

Dilma, Dilma. Não começamos bem.

Modos


Nelson Rodrigues é arteiro como qualquer bom labrador, mas começo a ficar preocupado. Hoje mesmo eu comprovei: ele está cada vez mais assustadiço. Com seus próprios donos.

Claro que as broncas que leva são devido ao seu comportamento de bagunceiro nato. Mas, este vídeo é a prova de que há esperança. Agora, será possível até levá-lo à mesa.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Guerras de secessão

Enquanto nas esferas sociais, físicas ou virtuais, trava-se um novo velho embate entre o preconceito separatista dos sulistas e a maioria humanitária e esclarecida do Brasil, lá em casa a batalha é mais dura.

É necessário separar o reino das formigas do quintal onde vivemos.

Finalmente descobrimos a razão de nossa brinco-de-princesa definhar. As samambaias seguem o mesmo destino. Da noite pro dia, suas hastes verdes pujantes se transformam em delgadas varetas peladas.

O problema se estende para além dos nossos domínios, atingindo uma área do condomínio onde recentemente plantamos duas mudas de parreira. Acho que nem as uvas primevas sobraram no pé.

Descobri, um tempo atrás, uma trilogia romanceada - ficção científica de um francês, acho - toda sobre formigas. Até pensei em comprar, titubeei, deixei para lá. Acho que agora vai. Sun tzu: conhecer o inimigo.

Além disso, preciso saber de que lado está Nelson Rodrigues, o labrador de Bigodes Buliçosos. Até agora, o danado tem feito o jogo das formigas - escavando buracos, macerando plantas, destruindo vasos.

Caudiquê agora é guerra. Nossas plantas precisam de nós. Nossas flores pedem socorro.

Um exército marcha contra nós.

Cachorros e homens de bem de todos os quintais, uni-vos.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Vitória

Tive o privilégio de conversar com um debatedor de - chamemos assim - "direita" realmente formidável. Lúcido, persuasivo, quase implacável, com uma memória assombrosa e argumentos poderosos.

Foi por pouco tempo, e deu vontade de conversar mais, sobretudo porque, embora eu não tenha partido para a conversa com o intuito de convencê-lo da minhas - chamemos assim - posições de esquerda, saí com a impressão de que nossa prosa não logrou ser reduzida às idéias essenciais, como eu queria: tirar da carne dos nossos discursos antagônicos tudo o que fosse superficial e acessório para chegar lá no osso.

Mas ele tem (não que precise ou se importe) todo o meu respeito.

Serra, não.

O discurso e as atitudes políticas do Serra e de seus correligionários antes, durante e até depois da campanha, como se viu no seu pronunciamento pós-eleição, são passíveis de várias, várias críticas - do ponto de vista da honestidade, responsabilidade e da ética.

O que se entende grosseiramente por "a direita" sempre vai existir. É histórico, é da humanidade. O que as forças aliadas a Serra representaram não eram um contraponto crítico, mas sim a dissimulação, a desinformação, a apropriação indébita da religião, o multipreconceito contra pobres e nordestinos, o cinismo e a ultra-hipocrisia.

E sabe com o que isso se parece? Me desculpem a sinceridade, serradores (como diz a Bibi): não é possível manter um diálogo com algo que a cada dia parecia mais e mais um arremedo tupiniquim da Klu Klux Kan.

Até pra começo de conversa, precisamos de uma direita com idéias.

* * *

Valeu a vitória.

Contra a Veja, a Folha, a Época, o Estadão, o Jornal Nacional, o Globo, a Globo, contra a imprensa internacional neoliberal (Financial Times, Newsweek, etc), contra a "bolsa-esmola", contra o preconceito de classe, contra setores religiosos conservadores, contra o Papa, contra tudo.

Agora, Dilma: abre seu olho. Porque o olho do PIG já está aberto. E o nosso, aliado porém crítico, também.