segunda-feira, 29 de junho de 2009

Não resisti!

(texto original aqui, by Meg Marques)

Cuidados

O menino já tem 34 anos e ainda quer ser cuidado.

Ou, talvez, ele ainda tenha só 34 anos e precise de cuidados.

Ele até sabe tomar banho sozinho (há quem duvide!); mas, às vezes, pede que a namorada lhe dê banho e esfregue as costas.

Sabe escolher as próprias roupas e vestir/despir/tirar/trocar. Mas o resultado invariavelmente é pífio, e quer que a namorada o ajude em cada etapa.

Come sozinho e é bom de garfo. Mas não dispensa, ou melhor, se enternece quando a mulher voluntariamente se oferece para dar uma colherada na sua boquinha, do próprio prato dela. Ele já tem 34 anos, mas ainda pede por cuidados da namorada.

Certamente não por preguiça, nem por ciúmes de ninguém, nem por querer controlar a namorada. Talvez, porque precise mesmo.

Ou porque, simplesmente, gosta de ser cuidado.

Gosta de receber beijinhos quando estão abraçadinhos na mesa de bar, no sofá, seja onde for.
Gosta dos pés esquentando pés enquanto dormem juntos. E da massagem que a namorada lhe concede quando esfrega suas costas nas horas mais íntimas.

Acho que o menino gosta de ser cuidado, mais do que se cuidar sozinho, porque teme os dias em que terá que se virar sozinho; por preocupação, infundada ou não, já sente falta do carinho que acompanha o cuidado, da ternura tépida com que ela veste o seu corpo e agasalha sua alma.

E eu me subtraio e não lhe exijo os cuidados que já poderia dispensar um menino de 34 anos. Porque também pressinto os dias em que o acesso ao meu corpinho será negado às mãos dela, pois este corpinho terá conjugado o infinito verbo do tempo. E hei de querer me pentear sozinho porque terei apenas cãs, não mais o cabelo negro e basto para o deslizar de seus dedos. E vou me encher de pudores perante o corpo que já se modifica e não me deixarei vestir ou despir ou calçar. E não terá volta.

Aproveito o quanto posso, enquanto posso, pois sou um menino de 34 anos e já posso fazer tudo sozinho. Mas a dádiva de um cuidado da mulher é eterno.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Pra fechar o...

Uma síntese razoavelmente pertinente sobre o sentimento geral a respeito do MJ foi dada pelo Larry King, na CNN, ontem:

"Era difícil gostar dele. Mas também era difícil não gostar."

This is it

Nesse mundo a-pop-calíptico, que começou no século em que você nasceu, cada geração teve seu ícone.

Ia escrever o ícone que merece, mas fiquei na dúvida.

Uma pena que talvez o mais talentoso cantor/dançarino da nossa infância/adolescência fosse tão desequilibrado.

Lembro-me que, com Thriller, entre os personagens da minha infância (mesmo os que mais tarde revelaram tendências racistas) ninguém ligava pra cor do cara: eu, eles, todo mundo só queria ser, cantar e dançar como o Michael.

Mas, com o processo de branqueamento artificial que deu início às esquisitices em série, suspeitas de pedofilia e etc, Michael foi se transformando em piada pronta.

Como a anedota (um tanto sem-graça) que acabei de receber.

Qual a primeira coisa que Michael Jackson falou quando chegou ao céu?

"- Cadê o menino Jesus?"

Michael queria ser branco. No fim, nem a morte o redime de nosso humor negro.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Aliás

Desconfio que é impossível, é excludente, é impraticável o amor com:
- Orgulho
- Cinismo
- Medo

Se há orgulho, não haverá amor; se há cinismo, haverá desamor; se há medo, não haverá nada.

Silêncio

É triste imaginar isso, de olhar para a pessoa traída.

É com pena que a gente olha.

Me sinto um pouco pior, como homem.

Ainda assim, rejeito o quanto posso a idéia de que deixei a condição de mera testemunha para compor uma velada - e, por que não, muitas vezes cínica e cruel - rede de cumplicidade.

Independentemente se inexiste amor no vértice do triângulo. Ou em que bases se assenta o adultério.

A tristeza do silêncio de quem sabe não se compara à triste dor de quem se descobre enganado.


quarta-feira, 24 de junho de 2009

Muóda

Dica pra quem aprecia moda (obviamente, pensei nas estrelas da minha passarela: Meguilda, Bibovsky e Laurovsky, as - popularmente conhecidas - Três Marias).

Ignorava que o estilista Ronaldo Fraga estava bem estabelecido na internet. Suas páginas apresentam um design bacana, com figurinos, passatempos e outros badulaques.

Tem blog e até site para guri.

Colhi estes desenhos para imprimir e colorir de lá:



Fonte: www.ronaldofraga.com.br

Se você quiser conferir a minha grife também, aguarde. O site ficará pronto em breve:
www.modamindingo.com.br

terça-feira, 23 de junho de 2009

Visita íntima

Hoje, deu vontade de chorar.

Por quê?

Tomo coragem para prosseguir e paro diante daquele lugar esquecido que todo mundo guarda no peito, como um velho sótão ou porão.

Há tantas histórias... Ali está uma bola, cascuda de atrito e vazia como o próprio tempo. Aqui, uma televisão amarela e rechonchuda, onde vilões eram maus e heróis eram bons, em intermináveis batalhas preto-e-branco. Na parede, empoeiram-se molduras diversas, ornadas de arabescos e elaboradas marchetarias. Em nenhuma há tela.

Deixo a fileira de espelhos ocos. Num canto escurecido e úmido, jaz uma grande escrivaninha, encerrando gavetas silenciosas como túmulos. Como um saqueador profano, violo o descanso de letras mortas: cadernos escolares, cartas de amor e rascunhos estranhos, ainda que familiares; parágrafos que não terminaram, poemas interrompidos.

Eu me afasto, querendo sair dali. A madeira do assoalho range sob meus pés, e por um momento tive a impressão de que o clangor se tornava maior a cada passo. Na maçaneta da porta, encaro meu reflexo invertido. A princípio, não me reconheço. No entanto, vou me acostumando àquela imagem, àquele rosto de ponta-cabeça que paulatinamente reivindica o seu dono. Sinto que isso tenha levado mais tempo do que deveria precisar.

Fecho a porta, mas não passo o trinco. A visita foi inútil.

Não pude descobrir de onde vêm as lágrimas.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Pára tudo

Peraí, moçada!

Acabo de ver notinha no portal Globo. O trailer de um tal Coração Vagabundo - documentário sobre o Caetano Veloso, em que o gênio aparece em cena de bilau frontal.

No trailer, imagino que a ênfase à cena tenha sido considerada irresistível aos produtores. O narrador avisa:

"Caetano. Like you´ve never seen before."


Chistes de duplo sentido à parte, é verdade.


Eu tinha pensado que já vira de tudo o que Caetano é capaz de fazer em categoria de autopromoção.

Tá certo que por enquanto nada se vê; foi também molecagem da Paulinha, filmando o cara escondido no banho. Mas nada deve ter ido ao ar sem anuência prévia dos envolvidos.

Lá vai o cabra, nessa altura do campeonato, com sessenta e tantas primaveras, mostrar o que é que a baiana tem.

Imagina se o Chico ia topar fazer uma dessas.

Por fim, acho que, se conseguir assistir, aturando os excessos do ego caetânico como se fosse a visita daquele parente chato por duas horas na sala de estar, deve ser até um documentário interessante. Afinal, o cara é um sujeito extraordinário.

O suplício é que ele sabe disto. E exagera.

/ / /

Diretamente da Lacônia, copiado do A Trombeta Espartana, Caderno B, coluna Kinema:

-Be kind, rewind:
Legalzinho.

-O sétimo selo:
Chato.

-Trama internacional:
Esperava menos.


Curiosamente, é quando o campo verbal tá árido que um crítico pasta.

Don't ever change

You never wear a suit of lace,
the powder's never on your face.
You're always wearing jeans
except on sunday.

So please don't ever change,
no don't you ever change.
I kind of like you
just the way you are.

You don't know the latest dance,
but when it's time to make romance
your kisses let me know
you're not a tomboy.

So please don't ever change,
no don't you ever change.
Just promise me you're always gonna be
as sweet as you are.

I love you when you're happy,
I love you when you're blue.
I love you when you're mad at me,
so how can I get tired of you?

A lots of other girls I've seen,
they know how to treat guys mean.
But you would rather die
than ever hurt me.

So please don't ever change,
no don't you ever change.
Just promise me you're always gonna be
as sweet as you are.

Please don't ever change,
don't you ever change.
Please don't ever change,
don't you ever change.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Rola bola

Alheia ao futebol, dona Meg acompanhou comigo alguns lances de Internacional x Corinthians.


Que partida é esta? Final da Copa do Brasil. Não, Campeonato Brasileiro é outra coisa. São Paulo, não: Corinthians. Aqueles ali, de branco.

Eu preferia a vitória dos gaúchos; por alguma razão qualquer, Meguinha transferiu sua simpatia para os paulistas. Tentei protestar, mas ela cravou:

- Olha só: os de branco estão muito melhores do que os internacionais.

Ela fez uma derivação de sentido que não chegou a ficar errado, tem sua lógica. Mas achei graça. Expliquei que o costume é chamá-los de colorados.

Lembrei-a da história do centroavante Claudiomiro, do mesmo Inter, desdenhando da Laranja Mecânica (que assombrara o mundo em 1974), com algo assim: "Não vejo novidade no jeito holandiano de jogar, é o mesmo que o seu Minelli aplica nos treinos!".

Ela devolveu a bola. Contou que uma amiga, uma vez, jogava conversa fora, dizendo que naquela festa havia ficado com um bélgico.

Depois, perguntou porque não entrevistam os árbitros no intervalo das partidas, que jogadores sempre entoam a mesma ladainha e que a opinião do apito deveria ser bem mais interessante.

Não soube dizer se é proibição das Comissões e Federações ou por simples hábito. Mas concordei, em princípio.

Enfim. É legal gente que vem com um olhar fresh sobre o futebol.

Pra terminar 1:

Hoje é aniversário de um gênio tricolor. Salve, Salve, Chico.

Pra terminar 2:
Frase do dia: Amoroso
"O jogador egitiano é muito veloz"
Frase de Amoroso, comentarista da Bandeirantes, durante a Copa das Confederações.

¡Gracias!


Parece que finalmente estamos entrando em acordo sobre o nome da proto-agência.

Vejamos e aguardemos.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Nãããããããããããoooo!!!


Só uma perguntinha:

Por que não doar as cervejas também, ora?

Sou uma entidade carente.

Dica do Leo.

Relógio roubado

Falando no Braga, leio agora que faz um mês que roubaram o relógio herança da família, na Casa onde passou infância e que hoje abriga a biblioteca municipal de Cachoeiro do Itapemirim.

Triste.

Por acaso (! ou ?), havia lido a crônica sobre este relógio - Sons de Antigamente - justamente nesta manhã.

O comandante e o passarinho



Que diálogo seria possível entre Che e Rubem Braga?

Isto é, claro, se Jânio Quadros não atrapalhasse a conversa.





quarta-feira, 17 de junho de 2009

terça-feira, 16 de junho de 2009

Devaneartes

Se vários aspectos da vida fossem uma galeria de arte, gostaria que a minha fosse mais ou menos assim:


Não é que meu apê seja uma zona – e sim uma reprodução de Escher.

Não é que meu 3x4 não seja belo – é só um retrato cubista de Picasso.

Não é minha alimentação desregrada – ela é apetecível como uma natureza morta de Cézzane.

Não é minha mente que seja caótica – e sim organizada como um painel de Pollock.

Não é que às vezes seja sonolento – os despertadores de Dalí é que são mudos.

Não é que esteja surdo à razão – ao contrário, faço coro com Munch.

Não é que às vezes me sinta sozinho – faço figuração num cenário de Hopper.

Não é que faça pouco desta barriga de cerveja – mas a vida fica mais leve se a vejo com os olhos do xará.

Não é que seja oriundo do Vale do Mucuri – escapei de um quadro de Portinari.


"A Arte não é a verdade. A Arte é uma mentira que nos ensina a compreender a verdade".
Pablo Picasso

Futebol

Olhaí, quando digo a Meguinha que, se a gente tiver um moleque, e se ele for bom de bola, teremos, sim, que investir no menino - não é à toa.

Vejamos: Ronaldo Fenômeno.

Consagrado, campeão de tudo quanto há, maior artilheiro das Copas e Burro na Sombra profissional.

Sobre o último jogo da Seleção Brasileira, na Copa das Confederações, disse o craque:

"- Acordei cedo para ver. Achei ótimo. Uma ótima vitória."

Cedo? Cedo?

Meu Deus, o jogo foi às onze horas!

Hoje, qualquer perna-de-pau ganha uma pequena fábula. Imagine então a vida dura dos que são competentes na profissão.

Por isso, investir na carreira de jogador de futebol do moleque pode ser uma boa.

Afinal, eu já preciso pensar em garantir a minha aposentadoria.

/ / /

Espero que o apetite que o Galo vem demonstrando se mantenha ao longo de todo o certame.

Estranho, jogando assim, voluntarioso, determinado, nem parece o mesmo Atlético.

O Galo é um time com fome.

/ / /

Doc, felicidades.

Bola pra frente. Sempre.




segunda-feira, 15 de junho de 2009

Remendo

Talvez o post anterior não tenha ficado claro. Publicidade se apropria da arte e de suas manifestações, mas publicitários não são, por conceito, artistas. Embora haja um sem-número de prima-donas nos departamentos de criação em todo o mundo.

O profissional de publicidade e propaganda, ou comunicação, pode atender a um objetivo específico, mas, via de regra, 99, 9% das vezes seu trabalho envolve vender. Um produto, um serviço, uma idéia. Whatever. Ou seja: ainda que peças e trabalhos viajandões na maionese tragam prêmios e reconhecimento da categoria, não necessariamente (ou apenas eventualmente) significam resultados para os clientes. Que é o objetivo do nosso negócio.

Já trabalhei com diretores de arte e redatores que se consideravam verdadeiros gênios, ou sempre incompreendidos ou ainda não descobertos. Tudo o que faziam era, pelo menos, supremo. Não raro, a inserção maior da logomarca dos clientes, a inclusão do serviço ou do produto no anúncio/VT costumavam atrapalhar a genuína obra-prima de suas idéias.

Na história do grande pintor, o que me chamou atenção foi a alegoria. Ok: o gigantesco ego de Pablito ainda estava em desenvolvimento. Mas, se Picasso - que era Picasso - não se fez de rogado com sua própria arte para resolver uma necessidade básica - que é esquentar as frieiras dos pés numa noite fria -, pode neguinho confundir o leiaute que ele criou como obra de arte?

O pior é que pode. É comum acontecer com os novatos, com os que nunca vão tomar jeito e com os realmente talentosos que não deveriam estar trabalhando infelizes dentro de uma agência.

Enfim: editoras, museus, galerias e exposições são para os artistas.

E publicidade não é para frescos.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Síntese

"No início da carreira, quando ainda dividia um pequeno quarto com o poeta e jornalista Max Jacob em Paris, Pablo Picasso passou por muitas privações. Durante um inverno mais rigoroso, para escapar do frio, foi obrigado a queimar alguns de seus desenhos para manter o cubículo aquecido."

Isso é tudo o que eu gostaria de dizer sobre como penso a minha profissão.

Orgulho boêmio

Pô, tem o Dia do Orgulho Nerd. O Dia do Orgulho Gay. O Dia do Orgulho Ateu. Sei lá que mais.

E nós, da boemia? Que temos?

Somos uma minoria. Cada vez mais acuada, cercada, reprimida.

Não temos privilégios.

As autoridades nos restringem. As pessoas de bem nos acusam. As famílias apenas nos toleram.

Cambada, proponho a todos a Noite do Orgulho Boêmio.

De preferência, numa segunda-feira.

Podem marcar o boteco.

No embalo

Aproveitando o embalo do dia de hoje e do dia dos namorados que vem por aí, que tal um fado com tempero brasileiro?

Maravilhas portuguesas


Bem. Hoje é 10 de Junho. E, segundo descobri: Dia de Camões, de Portugal e das comunidades portuguesas.

Também, hoje, serão anunciadas as 7 Maravilhas de origem portuguesa no mundo. A quem interessar possa: http://www.7maravilhas.sapo.pt.

Se não entrar a Doutora - minha querida alfacinha - já adianto que é marmelada.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Heróis x Vilões POP

Da série “Ninguém me perguntou”:

Minha seleção de heróis e vilões POP. Quem eu esqueci vai pro banco.

HERÓIS
- Tio Patinhas e Donald, de Carl Barks
- Homem-Aranha, de Roger Stern e J. Romita Jr.
- Hulk, de Peter David
- Monstro do Pântano, de Alan Moore
- Eleanor Arroway, de Contato
- Amelie Poulain
- Indiana Jones
- Andy Dufresne, de Um Sonho de liberdade
- Clint Eastwood, pela trilogia de "Punhado de dólares"
- Ninguém, de Meu nome é ninguém
- Benjamin Braddock, de A primeira noite de um homem


VILÕES
- Darth Vader, arroz de festa em qualquer lista do gênero
- Paolo Rossi, por 82
- Coringa, pelo conjunto da obra
- Kevin Spacey, em Seven
- Kevin Spacey como Verbal Flint, em Os Suspeitos
- Rutger Hauer, em Blade Runner
- Rutger Hauer, em A morte pede carona
- Jack Nicholson, em Melhor, impossível
- Adrian Veidt, de Watchmen (a graphic novel)
- O Comediante, idem
- Visconde de Valmont, de Ligações Perigosas, que é tão safado que poderia jogar nos dois times

PS Tenho uma queda por certos vilões. É a atração do lado negro da força.

Juventude, do J.M.Coetzee

Rola uma identificação com o estilo do Coetzee. Gosto de suas indagações. Gosto de acreditar (ou de me iludir; quando não, é a mesma coisa) que também seja mais conveniente, fácil ou natural escrever fazendo perguntas do que dando respostas. Gosto de pensar que questões honestas têm lá o seu quilate.

Mezzo autobiográfico, mezzo calabresa, o livro conta a história do jovem inseguro, em busca de reconhecimento literário; o medo, dúvidas, frustrações e amadurecimento ao longo de uma fase cinzenta da vida.

Nascido em 1940, hoje o tal Coetzee é Nobel de literatura e ganhador de outras láureas de valor.

Talvez a disponibilidade do sucesso dependa também de uma predisposição para o fracasso.

Para os bem-sucedidos do mundo, isso é uma sólida verdade; para os fracassados, um alento indulgente; para mim, mais um sofisma.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Dropi-xotes

Cismei de comer pato. O Patorrouco, do Comida de Buteco, tava fechado. Doc e eu visitamos vários bares do festival, tudo fechado. Domingo.

Até que paramos no Doca. Sapecamos o prato deste ano, costelinha ao molho de goiaba e empadas de angu recheadas de requeijão. Foi de lamber o osso.

E deu gula por mais.

* * *

Friozim - né, moçada - enseja ficar em casa debaixo das cobertas, repetir o prato, postergar banho, etc. Inclusive, dar uma colher de chá para as locadoras.

Do que vi nos últimos dias, só vale menção o Menino do Pijama Listrado. E o Réquiem para um Sonho, que tri-vi com a Doutora. É um filme valioso, mas também um pesadelo. Evito assisti-lo, é deprimente.

* * *
Outro dia, uma dona norte-americana, que era gordinha mas estava mui, mui longe de ser um caso clínico, tipo aberração, tirou todas as pelancas num desses reality shows de mudança de visual e então, rindo, declarou: - "Vejo inúmeras possibilidades. Minha vida vai mudar."

Sei que é um reflexo desses nossos tempos e costumes. Mas acho que falta à TV brasileira e, quiçá, mundial, um tipo de reality show diferente.

Em vez de programas que prometem rejuvenescer/repaginar a pessoa em tempo recorde - os tais extreme make over, com sessões de beleza, ginástica, maquiagem, operações plásticas, preenchimento de seios e lábios, operações de redução de estômago, clareamento dental, bronzeamento artificial, banho de loja e personal stylist - que tal uma plataforma pra deixar o bicho 1 ano mais culto em apenas 1 mês?

Hein? Hein? Um reality show onde o sujeito entra Zé das Couve e sai, sei lá, entendendo fotossíntese? Um treinamento intensivo e diário, conforme a necessidade do felizardo, de alfabetização, leituras referenciais para cultura geral, curso básico de idiomas, estudo de clássicos selecionados? Que tal trocar a seringa de botox por uma injeção de conhecimento? Ao final, eu gostaria de imaginar o Zé das Couves sendo entrevistado, boquiaberto de espanto: "- Minha vida vai mudar. Vejo inúmeras possibilidades."

Olhaí, Boninho. Aproveita que inda não patentei.

* * *

Meg é massa.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Niemeyer


Caiu em meu colo, por obra de grato acaso, entrevista com o Oscar Niemeyer, da revista Audi Magazine.

Deu uma certa satisfação em ver o velhinho, aos 101 anos, em plena lucidez, em lúcida coerência. Tanto que não resisti a reproduzir alguns excertos.

O tom, a mensagem geral que predomina por toda a entrevista é a insistência do arqui-arquiteto com a educação do jovem. Que só arquitetura não basta; ela não é suficiente para transformar socialmente o mundo em que vivemos.

"O jovem precisa saber que a vida é injusta, que é preciso lutar. A gente quer um homem mais fraternal."

"A arquitetura é o pretexto, mas o objetivo é levar ao jovem eterno, aos jovens de um modo geral, uma idéia de que é preciso refletir sobre o seu país."

"Os jovens têm que ler, e no Brasil leem pouco."

"Então o sujeito entra para a escola superior, ele quer ser um vencedor, só pensa na profissão. Sobre a vida, propriamente, que é mais importante que a arquitetura, ele não toma conhecimento. E sai para a vida como o especialista, despreparado para o mundo perverso que o espera."

"Por exemplo, aqui no escritório há cinco anos vem um sujeito falar sobre filosofia. Agora estamos conversando sobre o cosmos. Então, a gente sai da aula, às vezes, pequenino."

"- A gente não quer muito. A gente quer que o sujeito olhe os outros com..
- Como iguais?
- Com interesse."

"Eu sou contra a Bauhaus. Era uma burrice danada, era uma merda."

"O importante é o jovem ler - ler qualquer coisa. O sujeito acaba encontrando um caminho que ele queira."

"Brasília não tem uma praça que dê uma ideia da importância do país (...) Uma praça que você passa e não esquece mais. É uma burrice danada tombar uma cidade. (...) Se eles esttão tão interessados na ideia de que Brasília deve ser tombada, que se fodam."

"Eu prefiro fazer museu a uma casa. Existe coisa pior do que fazer uma residência? Como é que você vai lidar com um casal reacionário?"

"O reacionário é um pobre criativo, de mau gosto."

[Numa entrevista para a TV canadense, depois de todo o equipamento testado, a repórter inicia a conversa dizendo: "Aos 101 anos, o senhor...". Niemeyer interrompe a gravação]

"Começamos mal, pode desligar todos esses aparelhos aí. Essa história de 101 anos é tudo mentira. Tenho 65, vamos começar outra vez."


" Uma vez, um sujeito perguntou: ´Oscar, e a vida?´ Eu disse: ´A vida? Mulher do lado e seja o que Deus quiser!'. A mulher é fundamental, como dizia Darcy Ribeiro. Agora, a vida depende de chance. Eu tive chance. Outras pessoas não têm. Tem colega meu que não tem trabalho. Isso me incomoda, não é? Eu me lembro de João Saldanha, que vinha muito aqui. Ele dizia sempre: ´Eu não consigo seguir um caminho. Quero fazer uma coisa, o destino me leva para outro lado´. Enfim... De modo que o importante é a mulher do lado! E saber que nós não temos importância. Que o tempo é curto. Quando você sobrevive mais, você se despede demais das pessoas. A vida é uma merda [ri da blague], mas a gente tem de viver, não é?"

A pia

No vaso sanitário, lugar de reflexões profundas, meu olhar encontrou estranhamento.

Imagino que de vez em quando isso acontece com as pessoas: você, acostumado dia e noite a uma coisa, um objeto ou cenário copiosa e cotidianamente sempre à vista, se pega de repente tendo indagações que brotam de um olhar, agora, diferente.

Pois lá eu estava em minhas bioobrigações quando me descubro enfeitiçado pela pia. Sim, a pia.

Não era uma dessas pias chiques que a gente vê nos catálogos modernos e nos projetos de revista de arquitetura e decoração. Não. Era apenas uma a mais, sem maiores encantos ou adornos. Uma pia comum, ordinária; vulgar até.

Consistia em uma plataforma que suspeito granítica, um bojo, uma torneira. Mas, veja: o granito está assentado sobre duas hastes de metal, de cerca de 30 cm cada, que o tempo e a umidade se incumbiram de enferrujar. Estão fixadas na parede. Como fizeram para colocar lá? Ora, não deve ser difícil; dá pra conjeturar métodos e práticas sem esforço.

Mas, pensei, com certo desânimo, que fosse eu o encarregado de executar este serviço relativamente simples, que deve ser assentar uma pia, não o saberia; talvez, nem por onde começar. E, olhe: o suporte de pedra também é colado na parede. Como? O que usaram? Qual a mistura, a argamassa fixadora?

E, então, da pia meu assombro se dirigiu aos metais. Os canos de formatos variados, as conexões, o tubo - que lembra mais um canalete embutido para fiações elétricas - trazendo miraculosamente a água de misteriosas paragens até o encontro de minhas mãos... quanto trabalho, quanta técnica, quanto labor num mero dispositivo hidráulico. E os azulejos? Me dei conta, talvez pela primeira vez, de que devem ser colocados nas paredes no sentido de cima para baixo, não de baixo para cima. Não teria pensado nisso; me pareceria natural iniciar o assentamento pelos níveis que alcanço.

Enfim. Não posso dizer que espero seu perdão por tantas trivialidades. Mas, entenda, por favor, que a vida - freqüentemente, por sinal - é um espanto para os ignorantes.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Outoninho invernal

E papai aqui só com tempo para os trabalhinhos extra-classe. Reclamando, não: ao contrário.

Deus dá o frila conforme o redator.


Bobagem

Quero fazer uma experiência não-científica e não-programada. Pra ver se, só de ler, você vai ficar repetindo mentalmente o refrão e o resto da música:

Canta, canta, minha gente, deixa a tristeza pra lá...

PS. Deixa pra me xingar depois.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Festa de arromba

Semana passada, alguém deu uma festa de arromba lá em casa: arrombou a porta a pontapés, fez uma zona nos quartos, gavetas e armários e roubou alguns pertences/objetos pessoais.

Além de contabilizar o prejuízo financeiro, da necessidade de se incrementar a segurança do edifício e intensificar a precaução no rol de hábitos cotidianos, falta ainda arrumar a bagunça que o cara fez nos meus documentos. Isso é que dá mais preguiça: separar notas fiscais, recibos, contas pagas, etc, etc. Para alguém averso às tarefas de organização, é o maior uó.

À medida que a gente vai precisando das coisas e não encontra, acrescenta mais um item na lista do ladrão. Pelo menos, o sujeito deixou todos os eletrodomésticos no lugar. Embora, na minha opinião, acredite que o que tenho de mais precioso em casa sejam livros e HQ´s. Nada de muito valor, como se vê, a não ser sentimental.

Já pensou, um Arsene Lupin tupiniquim? Um gatuno literário? Que rapina somente a biblioteca dos cidadãos e, por escárnio ou vingança, deixa na porta da geladeira uma página arrancada de O Diário de um Mago?

Ou seja, ninguém merece. Por via das dúvidas, troquei a porta danificada por uma maciça com três fechaduras.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Air France

Que saco esse negócio do avião. Bem no ano da França no Brasil.

Inevitavelmente, pensei em Lost.

Às vezes, a vida deveria imitar a ficção.

Seria ao menos um alento.

No Palácio

Moro em BH há mais de vinte anos e nunca tinha ido à sede do governo mineiro, do nosso excelentíssimo Aécio Neves.

Acordamos cedo no domingo, chegamos a ponto de conferir a - um tanto quanto histriônica - troca da guarda. Mas como estava cheio demais e a visitação se estendia até as 13h, preferimos voltar mais tarde. Ficamos ensebando, rodando pela cidade. A duplinha já impaciente. Aí vem Bibi:

- A gente não vai ver o Palhaço da Liberdade?