quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Prato de hoje

Duas horas de almoço. Frugal, porém honesto.

Ragu de isca de frango, broto de feijão, pimentão amarelo, tomate, batata e cenoura. Feijão à parte.

E suspiros. Um antes da refeição, outro depois. Podem experimentar, recomendo a dieta: abre o apetite de sal no início e, ao final, deixa gostinho de quero mais na boca.

Pra finalizar, cafezinho - como diria um ditado (irlandês, creio) - preto como o diabo, doce como um beijo roubado.

Do CD que ganhei

"Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguem me esqueça"

Cale-se! Cale-se! Você me deixa louco!

Hahaha!

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Ninguém se arrisca

Batata: toda vez que apresentamos duas linhas criativas para os clientes da agência, uma mais conservadora e outra mais intrépida, não tem jeito: sempre escolhem a linha mais segura, menos provocativa. E olha que as propostas preteridas não são de forma alguma a reinvenção da roda ou a quadratura do círculo. Somente algo que exigiria um pouquinho, um tiquinho só de vida e coragem pra temperar e tornar essa nossa comunicação/publicidade menos insossa.

"I-love-her! I-love-her!"

De vez em quando meus amigos me chamam de "Ross" - o Geller de Friends. Creio concordar: nos parecemos pelas asneiras, o jeito abobalhado, etc.

Excepcionalmente hoje, no entanto, estou me sentindo muito como o Chandler Bing. Lembram aquele em que todo mundo tava de pegadinha uns com os outros, enquanto Monica e Chandler lutavam para esconder o relacionamento? A Pheebs ameaçava dar um malho no Chandler para desmascará-lo. Embora tenha tentado manter a pantomima o quanto pôde, uma hora ele cede. E se declara na frente de todos, para todos. Monica sai de dentro do banheiro e ele sustenta: reafirma seu amor, apontando para ela e batendo em seu próprio peito.

Antes de serem amantes, amados, são amigos - o que implica, necessariamente, em mútua compreensão. I'll be there for you. É o que importa.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

100 posts

Sem lenço
Sem documento
Nada no bolso.

Centauro ébrio
Sentou o pé,
Cheio de mé

Sem noção
Bateu! Sorte,
Foi sem morte

E sem paz
Sem mais
Cem posts.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Segunda-feira

Hoje não foi um dia bom. Dá vontade de dormir mais cedo. De ser menos ingênuo. De ser mais atilado. E de usar pra valer o nosso inalienável direito de não ser burro.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Money is no problem

Fui até ingênuo de acreditar que a seguradora do carro em que bati não viria atrás de mim. Problema nenhum: que significam as prestações de financiamento do carro, do seguro do carro, do financiamento imobiliário, do curso de especialização da PUC, da máquina de lavar, do sofá, do guarda-roupas e das demais despesas mensais e cotidianas de cada dia?

E agora querem míseros 4100 reais pelo conserto do automóvel. Ora, ora; com a fortuna que ganho, isso vai ser fichinha.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Hoje

Hoje estava no supermercado quando o telefone tocou: Bruno, mineiroca companheiro renascido em Minas e radicado em Niterói. Nos conhecemos na UFMG. Sujeito brilhante, mas tão incrivelmente mais vagabundo que conseguiu a proeza de ser jubilado num curso rame-rame como aquele. Olhando agora, bem fez ele, acho.

Enfim. O companheiro tava dando notícias de que.

Minto. Tava dando notícias de nada. No fundo, tava era querendo falar com seus brodas daqui, com vontade de escutar em vez de letras e suas entrelinhas as vozes e suas verdadeiras inflexões, com saudades das noites regadas a brahmas e companhias boêmias.
Vira e mexe, o bicho dá uma manifestação pública de carinho dessas - como e-mail recente, de mês atrás, para os que, como nosotros, ficaram pelas alterosas, ou para os bandoleros que se aventuraram noutras serras.

Eu andava como um peru entre as gôndolas, meio sem ter para onde ir ou onde me aquietava para melhor falar. Senti, uma vez mais, aquele velho desconcerto. Mas talvez o amigo nem o tenha percebido e, caso percebesse, não saberia ao certo de onde essa culpa que ora escondo me vem. No final, bastaria que soubesse isto: que ele não é, nem será, o único que, sejam quais forem as circunstâncias, se sente sem lugar e perdido nessa vida - fora ou do lado de dentro do peito. É pouco para o teu conforto, amigo, mas é tudo o que tenho.

Pobre Bruno. Sempre dei a ele menos do que recebi.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Lady Vingança

Cabei de ver mais um longa do diretor sul-coreano Chan-wook Park, o mesmo de Oldboy. A temática é novamente o acerto de contas, como no outro filme. Uma história forte, adulta, de gente em busca de redenção. É pop, estiloso, moderno, mas de jeito nenhum bobinho - pelo contrário. Enfim, não recomendado a mães sensíveis.

Gostei da fotografia da cena final - parecia uma pintura, aquele beco branquinho de neve, com a mãe ajoelhada à filha, o garoto a fitar o céu noturno salpicado de flocos que quedavam à luz dos lampiões. Bonito.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Cheiro do ralo

Cabei de assistir Cheiro do Ralo. Achei o filme, hmmmm... meio incensado. Sem trocadalho.

Bonitão


Que olhar de peixe morto... por coincidência, vesti nesta noite a mesma roupa com que fui ao aniversário do Leo (o que leva a duas conclusões simples: 1: não tenho um guarda-roupa abastado; 2: estou sempre me repetindo).
Na verdade, este é um teste. Estou colocando à prova talentos insuspeitados. Se funcionou, instalei o cd corretamente; sou capaz de passar as fotos do celular para o pc.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

"Eles passarão; eu..."

Notícia do Portal Globo chamou minha atenção. Vejam a manchete: "Passarinho adapta canto à floresta para passar mensagens diferentes". E o subtítulo: "Pula-pula-assoviador é baixinho, invocado e parte pra cima de quem invadir seu território".

Cliquei lá, li. Conta dos pulos que o tal Pula-pula (Basileuterus leucoblepharus) tem que dar para proteger território, conquistar a fêmea e afugentar outros pretendentes. Os cientistas perceberam que, nisso, o canto da pequena ave tem mais sutilezas e complexidades do que se poderia imaginar, sobretudo porque esta espécie vive em mata fechada - o que tornariam, teoricamente, as tarefas de sua vidinha um pouquinho mais difíceis. Há, no meio do texto, o trecho a seguir: "...típico exemplar de “baixinho invocado”, o inquieto passarinho é monogâmico e não hesita em partir pra cima de qualquer um que tenta invadir seu território(...). Resta ao pula-pula usar o canto e o ouvido para monitorar como anda a vida na vizinhança".

Taí, me identifiquei com o bicho.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

A nota


Chamai-me menestrel
Mas de uma nota só
Que preenche meu peito
Bem mais que um Dó

É linda, musical
Essa nota que canto
Nessa melodia sem Ré
Nesse amor sem pranto

Essa nota desafia
Qualquer afinação
Pra viola, é um aperto
Pra Mi, que (des)concerto!

Vou cantar bem baixinho
E assim a levarei
Pra ninar em nosso ninho
Bem Fá, far away

Faz Sol naquela charneca
O tempo todo é uma beleza
Embora chova todo dia
Toda noite floram estrelas

Lá a gente pode se amar
Em paz, com amor
Com ardor, uma vez
E muitas outras mais

Não adianta mentir pra Si mesmo
Sou, sim, letrista de rima pobre
Mui honesto, embora ermo
Disso tiro meu pouco cobre;

Mas rico fico, cheio da nota
Quando ela me possui e me esgota;
Dá vontade de urrar numa trombeta
A cifra valorosa, insinuante, lisboeta

E se me toca essa nota
E me faz bulir em fervura
É porque ninguém a encontrará
Em nenhum'outra partitura!

Pois vem no tom desse coração que flui
Ora manso; ora fera;
Na correnteza das minhas veias
No compasso de minhas artérias;

Vem como ondas vêm do mar
Vem como sussurros de sereia
E me escraviza, tal como o luar
Põe cativa a maré cheia

Paixão que não é de agora
Mas que já nasceu imorredoura
A identidade desta nota? Ora,
atende por teu nome, ó Doutora!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

R$2 mil na sua mão!

Se você está precisando de grana como eu, essa é uma ótima oportunidade! Ajude-me a vender um lote de 1.000 m2 em Casa Branca, no Condomínio Aldeia da Cachoeira das Pedras. O terreno tem mata nativa e filete d'água no fundo! Imperdível! A apenas 30 km do BH Shopping. Vendo por R$36 mil e pago 6% de comissão, + - a quantia do título por este valor de venda. Fotos e mais detalhes em breve!

Tá precisando de um dinheirinho extra? Então, é doismilzinho na mão, fácil! Tirem o traseiro da inércia, arregacem as mangas e ponham a boca no trombone! Vamo lá, moçada: anunciou, vendeu!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Dá licença?

Chega de posts sorumbáticos! Basta de letras meditabundas! Fora sentenças de arrufo! Se Deus estiver servido e a vida permitir, quero falar com e de alegria!

Tirem a melancolia da reta que eu quero passar.

Mordaça

Faz calor essa noite. As ruas estão surdas e pesadas, uma massa de silêncio negro e quente recobre a copa das árvores e até os paralelepípedos estão quietos.

É sempre lamento o que fica não dito. Aquilo que você sabe que deveria ter dito a alguém e perdeu o momento. Uma coisa de carinho, um colo de consolo, uma isca pra sorrisos, um clamor de perdão. E o momento se esvai e evanesce junto às palavras necessárias - o verbo em seu tempo mais que perfeito.

É ainda mais triste quando você tem ciência do momento único em suas mãos, e o coração feito palavras derretendo em sua boca, e, por motivo "de força maior" (aposto, não o seria em lugares sábios e ancestrais, como a escuridão tropical de Madagascar, os cumes encanecidos do Himalaia e até nas ruelas indiscretas de Istambul!) - a gente se cala. E só o que eu queria, poderia, deveria fazer, era gritar, rir e chorar. Abrir o peito e falar tudo, tudo. Ali, na cara, com a cara mais feliz de sem-vergonha.

Faz calor essa noite. Mais aqui dentro do que lá fora.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Hopper


Entendo tanto de pintura quanto de física quântica. Mas as telas de Hopper me tocam - eis algumas. De baixo pra cima: Nighthawks, 1942. Summer Evening, de 1947. E Railroad Sunset, 1929.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Bença

Se um dia a Ventura quiser me conceder essa graça, que me permita recitar em silêncio e amor a oração que Vinicius ensinou. Ele assina em cima; abaixo, e com toda, toda a minha alma, eu.

Pedro, meu filho...
Vinicius de Moraes

Como eu nunca lutei para deixar-te nada além do amanhã indispensável: um quintal de terra verde onde corra, quem sabe, um córrego pensativo; e nessa terra, um teto simples onde possas ocultar a terrível herança que te deixou teu pai apaixonado - a insensatez de um coração constantemente apaixonado.
E porque te fiz com o meu sêmen homem entre os homens, e te quisera para sempre escravo do dever de zelar por esse alqueire, não porque seja meu, mas porque foi plantado com os frutos da minha mais dolorosa poesia.
Da mesma forma que eu, muitas noites, me debrucei sobre o teu berço e verti sobre teu pequenino corpo adormecido as minhas mais indefesas lágrimas de amor, e pedi a todas as divindades que cravassem na minha carne as farpas feitas para a tua.
E porque vivemos tanto tempo juntos e tanto tempo separados, e o que o convívio criou nunca a ausência pôde destruir.
Assim como eu creio em ti porque nasceste do amor e cresceste no âmago de mim como uma árvore dentro de outra, e te alimentaste de minhas vísceras, e ao te fazeres homem rompeste meu alburno e estiraste os braços para um futuro em que acreditei acima de tudo.
E sendo que reconheço nos teus pés os pés do menino que eu fui um dia, em frente ao mar; e na aspereza de tuas plantas as grandes pedras que grimpei e os altos troncos que subi; em tuas palmas as queimaduras do Infinito que procurei como um louco tocar.
Porque tua barba vem da minha barba, e o teu sexo do meu sexo, e há em ti a semente da morte criada por minha vida.
E minha vida, mais que ser um templo, é uma caverna interminável, em cujo recesso esconde-se um tesouro que me foi legado por meu pai, mas cujo esconderijo eu nunca encontrei, e cuja descoberta ora te peço.
Como as amplas estradas da mocidade se transformaram nestas estreitas veredas da madureza, e o Sol que se põe atrás de mim alonga a minha sombra como uma seta em direção ao tenebroso Norte.
E a Morte me espera em algum lugar oculta, e eu não quero ter medo de ir ao seu inesperado encontro.
Por isso que eu chorei tantas lágrimas para que não precisasse chorar, sem saber que criava um mar de pranto em cujos vórtices te haverias também de perder.
E amordacei minha boca para que não gritasses e ceguei meus olhos para que não visses; e quanto mais amordaçado, mais gritavas; e quanto mais cego, mais vias.
Porque a poesia foi para mim uma mulher cruel em cujos braços me abandonei sem remissão, sem sequer pedir perdão a todas as mulheres que por ela abandonei.
E assim como sei que toda a minha vida foi uma luta para que ninguém tivesse mais que lutar:
Assim é o canto que te quero cantar, Pedro meu filho...

sábado, 9 de fevereiro de 2008

No que dá escrever bêbado

Ai, cara. Às vezes, cedo tão fácil à pieguice. Quem não sabe fazer tem de saber de antemão: ter blog é não ter pretensão.

Vikings

Há tempo que nessa vidinha ordinária tenho tentado velejar numa onda de auto-conhecimento e deixar para trás as águas da culpa. Nessa maré, digo: ora navegamos muito bem, com vento a favor; ora, há mesmo tempestades terríveis.

Há não muito entrei em tormenta. E; por seguir instintos que fizeram mãos, antes trêmulas, se agarrarem com uma firmeza desconhecida ao timão; na completa escuridão de chuva e vento e granizo que arrastam culpados ou inocentes indistintamente às profundezas; submetido à pressão incessante que cobrava de mastros sacolejantes e velas diáfanas apenas obediência e humildade; confesso: por dor, por raiva, por coragem, por amor - tomei o coração como bússola para viver.

Temo a permuta da sobrevivência pelo sacrifício de alguém. Como se o Destino ou a Fortuna não prescindissem de seu quinhão. Nessa viagem, há uma grande irmandade que em mágoas naufraga. Que a bóia que ei de te estender seja capaz não só de simbolizar a salvação da nossa amizade, irmão Viking, mas também da minha´lma.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O boêmio voltou

O carnaval se foi. Desejo a todos um feliz ano-novo, que começa agora. Vamos viver nossas vidas - na falta de algo melhor para fazer - um dia de cada vez.

Copos ao alto, camaradas.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Correnteza

Há, entre bêbados e maus letrados, uma tentação gigante de fazer má poesia. Puxa, eu não queria. Jamais quereria trapacear. Não existe literatice que valha o sentimento verdadeiro. Tudo bem: parcos recursos, vocabulário andrajo. Mas, mesmo que fancy fosse, nada valeria de nada que não sucedesse ao repuxo das válvulas imortais! Nada valeria que não fosse o talvegue desse leito maior, fluxo-refluxo de uma força indizível, inomeável, irreprimível.

Assim como a correnteza corre para o mar, meu amor, manso e voluptuoso sob a lua, se dirige a você.